quarta-feira, 3 de julho de 2013

ORIGEM DA PENITÊNCIA

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

ORIGEM DA PENITÊNCIA
9 de Julho de 1940

Prossigamos estudando o Sacramento da Peni­tência. Jesus Cristo, durante Sua estada na terra, exerceu o poder de perdoar pecados. Frequentemente o demonstram: os Evangelhos. Exemplos: na cura do paralítico, no episódio da mulher pecadora, etc. Tendo fundado uma Igreja, que Ele expressamente chamou Sua, não podia deixar de transmitir-lhe esse poder divino, essencial à salvação das almas. Tudo isso esta no versículo 18 e seguintes, do capítulo XVI do Evangelho de São Mateus: “E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus. Tudo o que ligares na terra, será ligado no céu. Tudo o que desligares na terra, será também desligado no céu”. Nada mais claro. Os verbos estão no futuro. Trata-se de uma promessa.

Jesus escolhe Pedro para pedra fundamental do seu edifício monumental. Vê-se que a obra seria sólida — fundada sobre “pedra”. E duradoura: as portas do inferno não prevaleceriam contra ela.

Seria ingenuidade pensar que o inferno não teria poder contra a igreja só enquanto vivessem os apóstolos. Note-se, porém, que o que Jesus disse e prometeu a Pedro, quanto ao poder de ligar e desligar, disse-o aos demais apóstolos. É o que se lê no versículo 18 do capítulo XVIII, do mesmo Evangelho de São Mateus: “Em verdade eu vos digo que tudo quanto ligardes na terra, será ligado no céu; tudo quanto desligardes na terra, será também desligado no céu”.

Jesus prometeu ainda a Pedro que lhe daria as chaves do Reino dos céus. Que vigorosa expressão! Quem tem as chaves, é o dono da casa; tem o poder de governar; admite ou repele os dignos ou os indignos... — Jesus constitui Pedro seu representante, o dono da sua casa, o chefe da sua Igreja!

E veja-se a distinção entre Pedro e os demais. Pedro é a base, a pedra angular, só ele. Pedro terá as chaves do reino dos céus. Só ele. — Pedro liga e desliga — os outros também. Pedro perdoa ou retém pecados — os outros também.

Realmente o que Jesus promete, cumpre, como vemos nos versículos 21 a 23, capítulo XX do Evangelho de São João: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai me mandou, assim também eu vos mando. E dizendo isto, soprou sobre eles, dizendo: recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem vós perdoardes os pecados, tais pecados serão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, tais pecados serão retidos”. Eis o cumprimento da promessa.

Duas coisas aparecem claras, de uma clareza meridiana. Primeira — que Jesus Cristo deu o poder de perdoar pecados. Segunda — que esse divino poder há de ser exercido a modo de tribunal; a definição de Penitência diz: é o Sacramento pelo qual, em virtude da absolvição judicial dada pelo legítimo ministro, o fiel verdadeiramente disposto é perdoado dos pecados cometidos depois do Batismo.

Se há, portanto, casos em que as faltas são perdoadas e casos em que são retidas, isto é, não perdoadas, há de ser constituído um tribunal, muito íntimo, sui generis, em que o penitente, que é réu, se acuse perante o sacerdote que é Juiz. E o juiz, verificando as disposições do réu, se ele está disposto ou não a se corrigir, dê ou não a absolvição dos seus pecados.

Crer nos Evangelhos e rejeitar a confissão é o maior dos absurdos. Como também é absurdo confessar-se a Deus, no dizer pitoresco dos que seguem uma religião, feita sob medida, e de acor­do com o gosto e as inclinações de cada um.