quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os meios da educação moral (Quinta parte)

Os meios da educação moral
(Quinta parte)


Artigo II - As coisas

Quais são as coisas que devem ser objeto duma vigilância especial?
São:

- Os passatempos;
- O dinheiro;
- As leituras;
- Os exercícios de piedade.

1º - Os passatempos

"Aquele que se quiser divertir com o diabo não se poderá alegrar com Cristo."
(São Pedro Crisólogo)

Como devem ser os passatempos?
Para serem dignos de tal nome, os passatempos ou divertimentos devem ser uma nova criação de forças e de faculdades; nunca devem prejudicar a saúde, nem demolir a moralidade e a religião.

Por que é necessário vigiar os divertimentos das crianças?
Porque as crianças, inexperientes e naturalmente imprudentes, podem entregar-se a divertimentos novivos à saúde, a vida e a virtude.

Não há ainda outra vantagem que se liga à vigilância dos divertimentos?
Sim. É durante os divertimentos que as crianças manifestam com a maior naturalidade o que são, e que fornecem ao educador inteligente as melhores ocasiões de as conhecer e a luz mais pura da sua experiência.

Que acontece quando os educadores não compreendem a importância desta vigilância?
As crianças entregam-se a jogos incovenientes, a jogos de mão, a jogos perigosos, a jogos a dinheiro. Muitas vezes até estão expostos ao principal inimigo da família: - a rua.

Porque é preciso vigiar os divertimentos dos adolescentes?
Porque há uns que constituem um perigo para a saúde, outros em que periga a fé, e outros, enfim, que comprometem a virtude.

Quais são os divertimentos em que periga a fé?
- São as sociedades, os saraus, as reuniões, a que não faltam os ímpios e onde se erguem "cátedras de pestilência".
- São as festas, as assembléias, os clubes, que absorvem todo o dia, ou pelo menos, toda a manhã do domingo.

"Um dos pontos do programa das lojas maçônicas consiste em organizar festas e concursos, dar espetáculos e conferências, principalmente ao domingo, multiplicar os clubes, cujas excursões e divertimentos se realizam também no domingo; tudo isto com o fim premeditado de obrigarem a abandonar a igreja, de desviarem os cristãos das cerimônias religiosas, com o engodo dos divertimentos profanos."
(Mg. Rrosset, deveres dos pais, p.66)

Que devem fazer os pais que neste ponto querem cumprir o seu dever de vigilância?
Nunca devem permitir que os seus filhos façam parte de sociedades duvidosas.

É fácil evitarmos umas certas relações: mas é necessário um ato de heroísmo para nos libertarmos da engrenagem, quando nela nos deixamos prender, embora seja só por um dedo.

Quais são os divertimentos que comprometem a virtude?
São os bailes, os espetáculos, os concertos, os cafés, etc., e geralmente, todos os divertimentos que obrigam a noitadas.

Por que é tão importante para a juventude evitar estas ocasiões de pecado?
Porque a  juventude é para a vida o que o tempo da floração é para a vinha e para as árvores frutíferas: um momento muito crítico.

E assim como um vento muito quente murcha as flores, assim como o frio as mata, assim como os insetos parasitas devoram as esperanças, assim também as ocasiões de pecado podem vibrar, e vibram muitas vezes, um golpe mortal na virtude frágil e delicada dos jovens e das donzelas.

Os educadores já as convenceram desta importância?
Há os que querem ter idéias rasgadas e chamam "afetação" ao pudor, que é a defesa natural da virtude: que não conhecem outro método senão aquele que consiste em seguir, mais ou menos, todas as indicações da natureza; que, sob o pretexto de que a ignorância não é a virtude, se servem de todos os meios para desemborrar as crianças.

"A ignorância não é a virtude, mas é providencial, e, à sua sombra protetora, a inocência pode conservar-se, pois tem tempo de se fortalecer para lutar um dia contra os furores da tempestade."
(Mgr Pichenot, ob. cit).

Quais são as práticas visivelmente inspiradas por estes princípios?

1º - As reuniões tendenciosas

Organizam-se, de propósito, pequenas reuniões onde os pais e os amigos, os parentes e as amigas, desde os treze aos dezoito, vinte e vinte e cinco anos, confraternizam em volta da mesma mesa ao chá, junto do piano, nos lances do mesmo jogo, nos meandros duma mesma excursão, etc.

As visitas não são indispensáveis?
E, para orientação futura da vida, não é preciso manter certas relações com pessoas que nos podem ser úteis?

2º - As representações em família

Nestas pequenas reuniões "aprendem-se pequenas comédias de salão, peças jocosas que se estudam durante o inverno e que ainda não se sabem ao chegar da primavera."

Que importa, afinal de contas! Não são os ensaios que produzem o verdadeiro atrativo?
E por que? Por que se terá o direito - em casa dos pais - de dizer e repetir, como "personagem", o que se não poderia nem ousaria dizer nas relações ordinárias da vida.

- Mas já que isto está no papel! ... (Nicolay, ob. cit, p. 156)

3º - O teatro

Levam-se as crianças a representações proibidas. Essas representações são de tal natureza que, se um criado se permitissem a liberdade de contar alguma anedota no gênero das que se ouvem e aplaudem no teatro, seria imediatamente despedido.

- Que miserável! - exclamam - que se não envergonha de dizer às crianças semelhantes coisas!

"As crianças! tenho-as visto à luz das velas,
criancinhas de sete anos a esgotarem as energias,
magras e graciosas circularem à meia noite,
entre as flores, os cantos, os perfumes e os ruídos.
Escutarem ruborizadas, com rosas de febres,
tantas coisas más que passavam pelos lábios...
O mundo matava-se, e a mãe lá estava!...
E o baile radiante prossegue no seu giro!"  
(Du Pontavice de Haussey)

4º - Os museus

Visitam-se os museus onde há obras mal veladas.

5º - As leituras avançadas

Permitem-se livros para cuja leitura se busca uma desculpa nesta miserável alegação:
"A minha filha já não é um bebê! Tem dezoito anos".

Qual é o incoveniente de tais práticas?
É que o homem não é um animal; para ele há um sexto mandamento de Deus, que proíbe os pensamentos, os afetos, os desejos, as imaginações, os olhares, as palavras, as ações desonestas, e que lhe impõe sub gravi que fuja de todas as ocasiões próximas de pecado mortal.

Tudo isto se esqueceu!
E tudo isto se deixam esquecer!

E isto é tão certo que nos meios onde se preconizam estes princípios, ou onde se pratica mais ou menos esta moral relaxada, as crianças, apesar de aparentemente piedosas, calcam aos pés o sexto mandamento; o seu procedimento é o espelho da sua consciência.

São então muito culpados os pais que se portam desta maneira?
Sim. São responsáveis diante de Deus pela falta de virtude de seus filhos; porque seria um milagre que, em semelhante meio, os filhos possuíssem uma virtude completa.

Os pais devem marcar a hora da entrada de seus filhos?
Sim. Devem exigir, geralmente, que os filhos e as filhas estejam em casa para a refeição da noite e para a oração em comum.

Que devem fazer os pais quando algum falta?
Devem imediatamente procurá-lo.

Nas pastagens das nossas montanhas, o pastor, chegada a noite, recolhe as ovelhas e conta-as. Se alguma lhe faltar, se não for um mercenário sem consciência, não se vai deitar, sem ter o cuidado de ir procurar a tresmalhada.

O pastor diz consigo:

"Há precipícios nas montanhas, e quem sabe se as minhas ovelhas lá caíram? Há feras e as minhas ovelhas podiam ter sido devoradas" E não se deita sem as ter todas no redil.

Se a noite vem, e os filhos não recolheram ao redil do lar, os pais devem fazer por eles ao menos o que o pastor faz pelas ovelhas! O pastor podia dizer: "Talvez as minhas ovelhas caíssem no abismo, talvez as feras as devorassem". Para os pais, este talvez é demasiado.

Os filhos que entram tarde sem que o pai e a mãe sejam conhecedores e aprovem as razões da demora, caíram com certeza no abismo, no abismo do pecado; foram realmente devorados, devorados pelo "leão rugidor" da Escritura, isto é, pelo demônio.

E, quando a porta se abre para dar entrada ao pródigo não convertido, se os pais dizem:

"Ele aí está, é o meu filho que entra!" enganam-se. Este não é o seu filho! Não é mais que a sua aparência, o seu espectro, a sua túnica! Ele? Uma fera o devorou! Já não existe! Já não é o que era; o seu coração perdeu-se, o espírito perverteu-se, a sua alma morreu; este é apenas o seu cadáver!"
(Segundo Mgr. Gibier)

2º Dinheiro

Que precauções se devem tomar com respeito ao dinheiro?
- Os pais não devem deixar à disposição de seus filhos senão o dinheiro necessário para um fim conhecido, e cuja aplicação seja verificada.

É um instrumento de perdição o maldito dinheiro nas mãos que se não sabem servir dele; com ele se compram os maus livros, os maus prazeres; as más companhias vêm por sua vez prococar as paixões da criança: acabam por arrastá-la ao abismo.

2º - Os pais não devem nunca tentar os filhos. Não devem deixar o dinheiro ao seu alcance.
Que ordem, que seriedade já numa família, onde um filho pode roubar, cinco, dez ou vinte escudos, sem que os pais dêem por isso?

E isto dá-se, sobretudo, quando os pais tem negócios a retalho. Que façam eles próprios as suas compras ou as mandem fazer por pessoas seguras. Se alguma vez encarregarem disso as crianças abram bem os olhos, façam-lhes prestar contas, e, se preciso for, peçam informações.

3º - As leituras

Qual é o primeiro fim e qual deve ser o primeiro resultado da vigilância em matéria de leituras?
É conhecer os livros, jornais, brochuras, etc., que as crianças têm à sua disposição, os pais devem freqüentemente revistar os bolsos, as sacas dos livros, as gavetas e o leito.

Devem saber se, de noite, quando julgam que tudo em casa está a dormir, os filhos e as filhas não se entregam a leituras que, por vários motivos, desejam ocultar.

Não foi porque a mãe faltou a todos os seus deveres de vigilância, que uma rapariguita (não tinha mais de treze anos) pode comprar, guardar durante semanas e "ler às escondidas" uma obra de Voltaire, tão ímpia, como imoral? Não foi pela mesma razão, que uma jovem, tendo recebido no sábado à noite um romance de Marcel Prevost, acordada até as duas horas da madrugada, para acabar de ler, não podendo, após esta proeza, levantar-se a hora de assistir à Missa dominical? (Autêntico)

Não foi ainda pela mesma razão, certamente junta com a ignorância, que, em certa família, piedosa, as crianças, entre as quais uma menina de dezesseis anos, que comungava todos os dias, liam freqüentemente Balzac, Eugénio Sue, cujos romances estão incluídos no Index? (Autêntico)

Qual é o segundo fim e qual deve ser o segundo resultado da vigilância em matéria de leituras?
É de proibir o acesso ao lar de tudo o que é susceptível de causar algum mal ao espírito, ao coração ou à alma.

A mãe, como o arcanjo de espada flamejante de que fala a Escritura, e que guarda a entrada do paraíso terrestre, deve colocar-se também à porta da casa paterna e dizer corajosamente aos maus exemplos, às leituras perniciosas, às companhias funestas, às palavras incovenientes, que queiram forçar a entrada:

"Tu não passarás!"
"Tu não passarás!" dirá a mãe cristã a esses jornais, ilustrados ou não, de inspirações duvidosas.

"Tu não passarás!" dirá a mãe cristã a essas publicações triviais, grosseiras, a toda as que despertam interesse sem instruírem e distraem aviltando.

"Tu não passarás!" dirá a mãe cristã a esses livros e jornais, portadores criminosos de impiedade e de corrupção.
"São piores assassinos do que os bandidos que assaltam os viandantes: os bandidos matam o corpo; eles matam as almas" (Mgr. Rosset)

Qual é o terceiro fim e qual deve ser o terceiro resultado da vigilância em matéria de leitura?
É dirigir as leituras da criança no sentido mais praticamente útil à formação da sua imagem, do seu espírito, do seu coração, da sua vontade, da sua fé e da sua virtude.

E há muitas crianças que recenem o benefício desta direção?
Muito poucas.

O maior número poderia repetir o que Feliciano Limerel, na Barreira, de René Bazin, exprobava a seus pais:
"Quem cuidou das minhas leituras? Li tudo o que quis, sem escolha, sem gradação, sem o guia de que precisava".

Esta direção é fácil?
Não o julgamos.

Julgamo-la, pelo contrário, uma questão sobrenamente delicada: ela exige, com efeito, o conhecimento de múltiplas obras; uma noção exata do estado da alma das crianças; a ciência particularizada das necessidades do seu espírito, a observação fácil das flutuações do seu coração.

Estas condições são tão raramente realizadas, que, ao ouvirmos algum rapaz ou alguma rapariga afirmar que as suas leituras são examinadas por sua mãe, não nos sentimos completamente sossegados.

Qual é o quarto fim e qual deve ser o quarto resultado da vigilância em matéria de leitura?
É exercitar a criança a defender-se a si mesma, formando-lhe o caráter de modo a adquirir a retidão pessoal e acostumando-a seguir imediata e docilmente a voz da consciência.

4º - Os exercícios de piedade

"A piedade é o escudo da virtude" (Mgr. Gibier)

Quais são as obrigações de vigilância no que respeita a piedade?
Os pais devem saber:
- Como as crianças rezam de manhã e à noite;
- Como assistem à Missa aos domingos;
- O lugar que ocupam na igreja;
- Como se portam na igreja;
- Quando e como recebem os sacramentos;
- Como se portam na catequese.

Não basta fazer recomendações; é mister verificar como se põem em prática. E o meio mais fácil ainda, e mais eficaz, seria, tanto quanto possível, fazer com as crianças todas as coisas que se desejam vê-las fazer.

Como resumir tudo o que se disse em matéria de vigilância?
Em um pequeno questinário, que poderá servir de exame particular periódico aos educadores conscientes das suas responsabilidades nesta matéria.

Pai e mães.

- Sabeis onde se encontram os vossos filhos quando não estão debaixo da vossa vigilância?
Com quem?
Em todas as ocasiões?

- Conheceis os seus condiscípulos?
Conheceis os seus companheiros de passeio?
Conheceis os amigos com que se relacionam?
Conheceis as famílias das crianças que visitam?

- Tendes confiança nos vossos criados?
Tendes confiança nos empregados?
Tendes confiança nos amigos que vos visitam com mais ou menos liberdade?
Tendes confiança nos professores a quem os entregais?
Tendes confiança naqueles a quem chamais "pessoas de confiança"?

Vós dizeis: sim!

Faríeis também a mesma afirmação e responderíeis com a mesma segurança, se se tratasse de lhes confiar a vossa fortuna: cento e cinqüenta contos, por exemplo, em títulos ao portador?

- Quando saem para um determinado fim:
Sabeis se eles vos não enganam?
Sabeis se eles vos não trocam as voltas?
Sabeis se a pressa em cumprir as vossas ordens não encerra uma segunda intenção?

Dizeis: demoram-se tão pouco na rua!

É preciso muito tempo para trocar impressões ou fazer promessas?
É preciso muito tempo para se entregar furtivamente uma carta?
É preciso muito tempo para uma entrevista?

- Conhecies as suas leituras?
Tendes um inventário da sua biblioteca?
Haveis esquadrinhados todos os esconderijos onde se possam ocultar publicações proibidas?
Estais certos de que pela manhã e à noite, nos seus quartos, ou na cama, se não entregam a leituras perniciosas?

- Estais certos de que eles recitam as orações de cada dia e se confessam e comungam no devido tempo?
Tendes a certeza de que chegam a horas à Missa, assistem a ela piedosamente, e não saem apressadamente, como fazem os cristãos pouco edificados?

- Não tem sido a vossa vigilância, por vezes, indiscretada e impertinente?
Levando-a ao exagero, não expusestes os vossos filhos à hipocrisia ou a uma excessiva passividade?
Recusando-lhes sistematicamente toda a liberdade de ação, não haveis sufocado a sua iniciativa ou desanimado a sua boa vontade?

(Catecismo da educação - Abade René Bethléem)

PS: Grifos meus.