segunda-feira, 3 de maio de 2010

O meio da educação moral - Quarta parte

O meio da educação moral
Quarta parte


2º - Pessoal

"Sem a vigilância, o amor do pai e da mãe não é mais do que um cego instinto e um sentimento estéril."
(Depoisier, Da educação, p.22-23)

Qual é o pessoal que é preciso vigiar nas relações com as crianças?
- Os operários;
- Os fornecedores que vão e voltam;
- Os professores que têm de se demorar muito tempo junto dos alunos;
- Os empregados;
- Os criados, particularmente.

Por que se devem viagiar os operários e os fornecedores?
Ah! meu Deus! simplesmente porque são homens, e nem todos são, por conseqüência, santos, nem heróis de virtude.

Por que se devem vigiar os professores?
Porque é grande a sua permanência junto dos discípulos, e desempenham as suas funções em conversações muito prolongadas. Quantos professores de solfejo, de canto ou de piano abusam da confiança que deviam merecer; destroem a harmonia dos corações ou semeiam a discórdia nas famílias!

Uma jovem deseja aprender inglês; mas, não sei porque acaso, o professor que possui as melhores condições é justamente um jovem oficial do exército britânico!

Por que é preciso vigiar mais especialmente os empregados?
Porque as relações são mais freqüentes e tornam-se facilmente mais íntimas.

Uma jovem, por exemplo, trabalha no escritório: um rapaz passa diariamente algumas horas com as das datilógrafas... Oh! todos eles são muito sérios! Não carecem de vigilância, diz-se. Não se vigia, e as desgraças repetem-se.

Por que se devem vigiar mais que tudo os criados?
Porque:

- Desempenham, por vezes, um papel importante na educação dos filhos dos seus amos.
- Nem sempre têm as qualidades requeridas, para desempenhar, como seria conveniente, as delicadas funções de que são incumbidos.

Por que são os criados admitidos a exercerem uma certa influência na educação das crianças?
- Voluntariamente, ou por necessidade, os pais entregam aos criados uma parte da educação: primeiramente, quando os filhos são pequeninos; mais tarde, também, quando a Senhora recebe, quando a Senhora está ocupada, fatigada, etc. Então, as crianças estão na cozinha, ou com algum criado.

- As crianças procuram a companhia dos serviçais, porque aí estão mais à sua vontade, e, ordinariamente, isso envaidece-as um tanto.

Os criados têm geralmente as qualidades requeridas para desempenhar estas delicadas funções?
Alguns há, cuja companhia em nada prejudica a criança; temos conhecido bastantes que são melhores educadores que os próprios patroões.

Mas, rendida a homenagem, essas admiráveis e raras exceções, é forçoso reconhecer que, comumente, o ambiente da cozinha, da copa ou da garagem, constituem uma triste escola de formação e de virtude.

A criada de quarto dá motivos para suspeitar da sua regularidade. A aia das crianças passeia o bebê pelos lugares das suas entrevistas. O condutor de automóvel, santo como um carreteiro, festeja mais do que é justo "o belo vinho".

E eis aí precisamente os primeiros educadores habituais de certas crianças.

E esta, suprema beleza da criança inocente, entrega-se às mãos de pessoas às quais não se confiaria, talvez, uma nota de cem escudos!

Os pais tomam todas as possíveis precauções para ter um pessoal escolhido?
Não se trata aqui dos pais e das mães que são os próprios obreiros da desmoralização de seus filhos... Não; neste capítulo só nos ocupamos de pessoas sérias, que têm, pelo menos, a noção do seu dever e um certa vontade de o cumprir.

Pois bem!

Essas mesmas pessoas nem sempre tomam as necessárias precauções para evitar surpresas. Quando se trata de assalariar um criado, procuram informações e exigem que estas sejam excelentes, mas não ponderam bem que essas informações estão, muitas vezes, sujeitas a uma caução e, por isso, em caso algum, se podem dispensar da vigilância; outros ligam mais importância às aptidões profissionais e técnicas que à distinção e à virtude.

Uma mãe, refere Mgr. Dupanloup (Da educação, t. III, p.441), desesperada porque seu filho foi expulso duma casa de educação, exaltou-se e disse ao diretor:

- Se o meu filho já conhece o mal, Senhor, foi na sua companhia que o aprendeu: eu entreguei-lho puro. Mas infelizmente, o diretor tinhas provas, e respondeu:

- Não, minha Senhora, não foi aqui que o seu filho aprendeu o mal. A Senhora tem ainda em sua casa um criado, que lhe merece toda a confiança, e foi esse que perdeu o seu filho... Ora queira perguntar ao pequeno se isso é ou não verdade!

3º - Os companheiros

Por que é preciso vigiar os companheiros?
- Porque têm muita influência;
- Porque a sua influência é, quase sempre, perniciosa.

Os companheiros têm, muita influência?
Freqüentemente, tomam sobre a criança uma autoridade superior, à que exercem os pais, os professores e até  o padre mesmo.

Eis aí três exemplos:

- Por que é que esta menina, de ordinário tão dócil, foge de usar uma certa peça de vestuário?
Porque uma das companheiras trouçou dela: ou simplesmente lhe disse que já não estava na moda. E para desfazer a impressão causada por uma tal opinião, que pode ser tão precipitada omo falsa, esgotaram os pais a sua autoridade; venceram, talvez, mas julgamos que nunca puderam convencê-la.

- Conhecemos um jovem pensionista de quatorze a quinze anos, a quem os pais davam pouco dinheiro - no que, seguro cremos, faziam muito bem - e que o arranjava por meios cuja honestidade era muito duvidosa.

E como lhes manifestássemos uma certa estranheza, respondeu-nos:
- Os estudantes zombam daqueles que não têm dinheiro.

E, no espírito, no pensar deste jovem, os companheiros tinham razão: precisava de dinheiro; seus pais, que lhe não davam quanto queria, laboravam, certamente, em erro.

- Na questão sobrenatural, quem é, então, que forma a consciência das crianças?
Os pais? - Quase nunca.
O padre? - Chega muito tarde e conhece muito pouco.

Regra geral, são os condiscípulos e os companheiros.

- Tu sabes a confissão? Eu já nem sequer me lembro dela.
- Tu confessaste a M.X? Eu não volto lá, é muito rigoroso, pergunta muitas coisas. Vou a M.I... esse não pergunta nada. Só gosto de me confessar a quem não me conhecer...

Não é preciso mais.

A educação, em matéria de confissão, está falseada, Passarão meses e anos, sem que se consiga corrigir, por prodígio de luz e de amor, a nociva impressão gravada na consciência por aquelas imprudências de palavras, de apreciações e de conselhos.

Donde procede a influência dos companheiros?
Resulta da freqüência e do prolongamento dos encontros.
Resulta dos atrativo de exemplo.
Resulta do amor próprio, que cria a emulação.

Por que é que a influência dos companheiros é muitas vezes perniciosa?
- Porque há muitos maus camaradas.
- Porque são mais interessantes que os outros.
Ah!

É verdade que há muitos maus companheiros?
Quem será capaz de calcular o número de crianças que se têm perdido por causa deles? Só Deus o pode saber. Mas a experiência diz-nos que é considerável, muito considerável.

Por que é que os maus companheiros são mais interessantes que os outros?
- Porque eles exploram o desejo de independência que dormita no fundo do coração de todas as crianças;
- Porque ensinam os meios de arranjar dinheiro;
- Porque explicam certas coisas, que há muito o espírito procurava decifrar, sem chegar a compreender;
- Porque revestem os seus vícios dum verniz de elegância, enquanto os outros podem conservar algumas vezes ridículos, que recaem até sobre a virtude. (Que se faz, para tornar a virtude atraente? Quantos se perdem, mesmo dentre os mais inteligentes, por causa do cheiro bafiento de interiores que nada torna claros e alegres.)

Assim a simpatia é profunda; e os pais que querem destrí-la, depois de a terem deixado enraizar, chocam com resistâncias muitas vezes invencíveis.

É verdade que os pais não desconfiam bastante?
Se fossem previdentemente desconfiados, não aceitariam para seus filhos companheitros que não fossem escolhidos a dedos e cuja influência pudesse favorecer a virtude e auxiliar a educação.

Em lugar disso, deixam ao acaso essa escolha, que é designada, afinal, pelas circunstâncias; as crianças freqüentam os mesmos cursos, sob a direção do mesmo professor, andam na mesma classe, no mesmo colégio; seguem a mesma via, para alcançar idêntico fim; vêem-se, convivem, tornam-se amigos.

Destes amigos de acaso, dizer-se que são quase sempre funestos. Ao menos devem ser objeto duma vigilância rigorosa.

Quais são os princípios que devem guiar os pais na vigilância de seus filhos?
Primeiro princípio - Em toda a camaradagem prolongada ou íntima, é quase sempre o pior que arrasta os outros e os amolda à sua imagem.

Segundo princípio - Quando dois rapazes, que são apenas levianos, se juntam, fazem-se garotos; se um terceiro e um quarto aumentam a companhia, a garotice do grupo segue uma progressão geométrica ascendente, corresponde a 2,4,8.

Terceiro princípio - Se as crianças, rapazes dou meninas que se visitam, forem bons, o perigo não desapareceu.

"Todas as vezes que estive na companhia dos homens, volvei menos homem" disse Sêneca (Ep; VIII)

Há nisso exagero.
Mas está provado pela experiência que os homens se tornam menos bons quando se reunem ou quando se associam. Aqueles que têm escrito a respeito da "psicologia das multidões" sobejamente o hão demonstrado.

Tende em vista as assembléias políticas, os operários nas fábricas, os amotinadores nas ruas.

Que se há de fazer para desviar o perigo?
Será preciso o sal da sabedoria, isto é, a prudência, que torna cada um desconfiado de si e dos outros, e a vontade positiva do bem e da virtude, servindo-se cada qual, para se tornar melhor, do apoio que dá a afeição.

Quando vos encontrais dois em intimidade, diz um santo, há sempre um terceiro que se junta a vós: é Deus, ou o demônio.

Este pensamento resume tudo o que nós queríamos fazer compreender.

4º - Os irmãos e as irmãs dos amigos das crianças

Por que é preciso ampliar a vigilância até aos irmãos e irmãs dos amigos das crianças?
Porque pode haver aí um verdadeiro e grande perigo.

Certo jovem escolheu um fulano para amigo, porque tem uma irmã.
Certa rapariga escolheu uma certa menina para amiga, porque tinha um irmão.

E esta pretendida amizade serve de capa a desejos sensuais, a escontros inconfessáveis, a demosntrações, que seriam notadas, se saíssem do meio onde habitualmente se observam.

5º - As pessoas convidadas

Qual o perigo que podem causar estes convites?
Os convidados têm filhos: à mesa têm os lugares ao lado dos vosso filhos, pais e mães. Olhai: não notais esses sorrisos de má intenção, esses olhares furtivos e como que inquietos, esses súbitos rubores que sobem à fronte e às faces..., depois, após a refeição, a pressa de escaparem a toda a vigilância?

Há aí verdadeiramente alguma coisa que vos deve inspirar inquietação. E longe de favorecer uma amizade deste gênero, deveríeis aproveitar a primeira ocasião para romper essas relações, ou procurar em pretexto, no caso de se demorar o ensejo.

6º - Os conhecimentos de termas e praias

"Vigiai, porque o demônio, vosso eterno inimigo, semelhante a um leão rugindo, ronda em torno de vós, procurando uma presa para devorar" (I Pd, V.8)

Qual é o perigo especial das praias e termas?
É o produto requintado de três defeitos que nesses sítios reinam livremente:
- a ociosidade, mãe de todos os vícios;
- a indolência causada pelo calor;
- a mundanalidade do meio.

Em geral os freqüentadores das estações balneares não privam pela gravidade das suas pessoas. Vão para repousar e divertir-se. Não, estão, portanto, dispostas a prender-se ou a preocupar-se por causa das crianças e da sua vigilância.

Assim, não se pode calcular o número de jovens, de donzelas, (e até de pessoas de certa idade) que se perdem na vida mundana das praias e termas.

E como compreendemos bem a relutância dos pais que não querem passar as férias numa praia, com receio do gravíssimo perigo que aí poderiam correr os seus filhos!

7º - Os encontros fortuitos

Que entendeis por encontros fortuitos?
São as relações casualmente criadas nas viagens, nas peregrinações, que não são, para alguns, mais do que uma espécie de turismo.

Qual o perigo desta espécie de encontros e relações?
É duplo:

- Está um desconhecido em presença de desconhecidos; convém, pois, desconfiar de si e dos outros.
- O destino comum cria facilmente uma intimidade, que pode ser perigosa.

(Excertos do livro: Catecismo da educação, do Abade René Bethléem, continua...)

PS: Grifos meus.