sábado, 15 de maio de 2010

Consciência

Consciência


Os Mandamentos são a regra dos atos humanos. Tudo que lhes é conforme é bom; o oposto, é mau. Mas, para saber se os nossos atos são conforme ou opostos aos Mandamentos, Deus nos deu a consciência, que aplica a nós a lei divina.

A lei de Deus, em si mesma, é invariável: universal e imutável. Mas, entendida e aplicada pelos homens, toma formas quantas são as maneiras de cada um julgar a moralidade das coisas. Daí a importância de saber que é a consciência, e quando aplica bem ou mal os Mandamentos.

O que é a consciência

1 - É um juizo prático pelo qual se julga, em cada circunstância, o que é obrigatório, permitido ou proibido.

2 - Antes da ação, a consciência nos esclarece sobre o valor do ato; se é bom, permite e aconselha; se é mau, proíbe.

3 - Durante a ação, nos julga: dá testemunho do bem e do mal que fazemos, encorajando-nos ou procurando deter-nos.

4 - Depois da ação, ela nos recompensa pela satisfação do bem feito, ou nos castiga pelo remorso.

A consciência obriga

Somos responsáveis na medida em que julgamos bom ou mau o que fazemos, no momento mesmo de agir. Por isto nunca se pode agir contra a consciência.

a) Tudo o que não é segundo a consciência é pecado (Rom. 14,23). Tudo o que se faz contra a consciência leva ao inferno (Conc. Latrão).

b) A consciência é em nós a voz de Deus para os casos particulares: não ouvi-la é desprezar a voz de Deus.

Espécies

1 - Nem sempre os homens julgam do mesmo modo a moralidade das coisas. Isto acontece por vários motivos:

a) ignorância: desconhecem o que a lei divina manda ou proibe;
b) educação: o ambiente, a convivência podem fazer com que os homens julguem erradamente o valor moral das coisas;
c) paixões: o homem é inclinado a julgar permitindo o que lhe agrada;
d) mau exemplo: a tendência de imitar leva a pensar e fazer como os outros. (Conhece casos de pessoas que, mudando de ambiente, mudam de modo de pensar e agir?).

2 - A consciência é verdadeira quando julga bom o que é bom e mau o que é mau. Julgando o contrário, é errônea.

3 - A consciência é certa ou duvidosa conforme tenha ou não tenha convicção de seu julgamento.

4 - A consciência escrupulosa teme pecado onde não há, ou acha grave o que é leve; a laxa faz o contrário.

Regras

1 - Temos obrigação de agir segundo a nossa própria consciência; mas só podemos ter plena confiança quando ela é verdadeira e certa.

2 - Nos casos de dúvida, procuremos afastá-la, consultando pessoas esclarecidas, estudando, refletindo para formarmos uma norma segura.

3 - Os escrupulosos obedecem com confiança ao seu confessor, e fiquem tranqüilos.

4 - Os laxos procurem corrigir essa deformação, pois é grave perigo guiar-se por uma consciência laxa.

Formação da consciência

1 - A consciência se deforma pela ignorância, pela má educação, pelas paixões soltas e pelos maus exemplos. O hábito do pecado arrebata o sentimento moral, e a hipocrisia nos dá um peso para nós, outro para o próximo. O afastamento dos deveres religiosos embota-nos a consciência; o demasiado cuidado dos bens terrenos nos faz esquecer as preocupações morais, e a prática dos atos sensuais (boa mesa, embriaguez, pecados contra a castidade, muito mimo com o corpo) enerva o coração e afasta o homem das coisas espirituais.

Não admira que pessoas assim, cegas de espírito, duras de coração, vivam tranqüilas e insensíveis no mal, com uma obstinação, que é o último passo em vida para a condenação eterna.

2 - Para se ter a consciência bem formada devem-se empregar os seguintes meios:

a) Instruir-se sobre os próprios deveres para saber o que deve fazer ou evitar.
b) Fazer leituras, em que se louva e ensina o bem. Os jovens com especialidade nunca devem ler maus livros, sob nenhum pretexto. E só devem ler bons livros. Praticar a leitura espiritual.

c) Consultar pessoas honestas e doutas sobre o que se deve fazer e por que.

As razões por que  devemos agir firmam as convicções. Quem age por convicções, age com muito mais segurança.

d) Fugir dos maus e conviver com pessoas de consciência bem formada.

e) Cultivar a sinceridade não só com os outros, mas consigo, julgando as próprias ações como julga as alheias.

f) Procurar em tudo a vontade de Deus e não a própria satisfação.

É preciso que nos acostumemos a fazer o que devemos, e não o que queremos. Diante do dever o homem reto só vê uma conveniência: - cumpri-lo.

g) Quando faz o mal, ver o maior castigo na deprovação da consciência; quando faz o bem, ter o melhor prêmio no seu aplauso.

Para viver a doutrina

1 - Quem tem uma consciência má vive infeliz. Sabe que está desviando do bom caminho. E por mais que faça  para viver tranqüilo, os remorsos não o deixam. Perturbam-no, apavoram-no: "Não há paz para os ímpios" (Is. 48,22); "os que praticam o mal, vivem apavorados" (Prov. 21,15).

A voz da consciência o acusa como a Caim, e o temor da morte o persegue (Gen. 4,14). É que o seu verme não morre (Mc. 9,47). E o pecado sabe por que teme. Baltazar se conturbou ao ver a mão escrevendo na parede (Dan. 5,6). Antíoco nem podia dormir com a lembrança de seus males (I Mac. 6,8-13). Às vezes vai até ao desespero, como Judas (Mt. 27,5).

2 - Quem tem uma boa consciência só teme ofender a Deus. Só pensa em fazer o bem e evitar o mal, obedecendo à Lei de Deus e fugindo assim ao pecado. Todos os males que lhe acontecerem por isto não o perturbam. Pouco se lhe dá que o mundo o censure, os inimigos o ameacem, os interesses padeçam, os amigos se desgostem, a saúde se arruíne, a vida perigue. Prefere tudo, contanto que fique em paz com a própria consciência.

Assim, fizeram os santos. Temos no Brasil o exemplo admirável de D. Vital. Quwm age com boa consciência fica tranqüilo, mesmo no meio das tormentas, dizendo, como Jó: "O meu coração nada me reprova" (Jo. 27,6).

3 - Não esperemos de ninguém a recompensa ou o castigo das nossas ações. Nem sempre os homens recompensam o bem que fazemos ou castigam o mal. Há casos em que os homens aplaudem o que a consciência me censura. Ou vice-versa. Ouçamos a voz da consciência, e nos tranqüilizemos. Isto nos ensinará a cumprirmos serenamente o dever.

4 - A melhor maneira de formar a boa consciência é uma boa vida cristã. A essência da vida cristã é o estado de graça. E o estado de graça é o mais poderoso meio de formação da consciência.

Assim como o pecado, vai nos escurecendo, deformando, insensibilidade, afazendo ao mal, o estado de graça vai esclarecendo, tornando sensível e delicada a consciência, despertando o cuidado de fugir ao pecado (mesmo venial) e acostuma à claridade ou à escuridão... Por mais de um motivo, devemos viver sempre em estado de graça, como bons cristãos.

5 - O exame de consciência é recomendado até por pagãos. É dos mais proveitosos meios, não só de formação de consciência, mas de perfeição cristã.

Damos o método de Santo Inácio, que não é exclusivo. Para o exame geral dá as seguintes normas:

1) Dar graças a Deus pelos Deus pelos benefícios recebidos. Isto nos mostra quanto é ingrato quem se rebela contra o Benfeitor.

2) Pedir a graça de conhecer e detestar os pecados. Precisamos do auxílio divino tanto para uma como para outra coisa.

3) Examinar-se desde o despertar até o momento presente, de hora ou de tempo em tempo.

4) Pedir a Deus perdão das faltas. A contrição é o elemento principal do exame.

5) Propor emenda, com uma resolução prática, que escolhe os meios. Por fim, o Pater.

6) É de suma importância sabermos sabermos as causas dos pecados. É bom conhecermos nossas faltas externas. Mais vantajoso ainda irmos aos motivos interiores donde elas nascem.

Faltando à caridade, podemos agir leviandade, ciúmes, inveja, vaidade; se agirmos deliberados para magoar o próximo, se tínhamos consciência da malícia do nosso ato, ou se agimos inconsideradamente, sem medir o alcance do que fazíamos, ou sem pleno consentimento.

No começo haverá alguma dificuldade nisto; mas irá desaparecendo aos poucos. Então veremos os bons efeitos do exame de consciência para a correção dos defeitos e para a perfeição.

(O caminho da vida - Pe. Álvaro Negromonte)

PS: Grifos do autor.