domingo, 11 de setembro de 2016

18. A EDUCAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.


18. A EDUCAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

Só há verdadeira educação onde há educação da liberdade e, 
portanto, educação da consciência.

• Praticamente, para a criança de tenra idade, bem e mal são o que os pais assim chamam. É fácil imaginar, então, o perigo representado pelo arbitrário, pelo exagero ou pelos erros de apreciação.
• Até que a criança atinja a idade de ter uma concepção pessoal da vida moral e de suas exigências, os pais são como a sua consciência viva. Nesse sentido, ocupam verdadeiramente o lugar de Deus. Grandeza e responsabilidade, estas! Pois que todo erro de "chaves” ou toda falsa manobra conduzirá mais tarde a desregulagens no mecanismo da consciência, e será uma das causas ocultas de muitos desregramentos.
• Todos os julgamentos de valor emitidos pelos pais, sobretudo se esses julgamentos são frequentemente repetidos, confirmados por exemplos e sanções, se inscrevem bem ou mal na consciência profunda da criança e até mesmo nos seus músculos.
 • É preciso dar à criança não apenas o conhecimento como o gosto do bem. A virtude que não for mais do que virtude fria, arrisca-se a cansar pela sua própria austeridade; quando se adorna de beleza, enche a alma de uma alegria estimulante, atrai e faz desabrochar. Não digais somente: “Está bem", “É mau”, mas: “É belo” ou “É feio”.

• Muito mais do que em lições expressas de moral, é nos pequenos fatos da vida cotidiana que o mais das vezes se oferece aos pais ocasião de formar julgamentos retos.
• É a propósito de tudo ou nada que a consciência se forma e desperta. Se esse despertar não for dirigido, realizar-se-á quase sempre em sentido contrário. Ensinar à criança julgar segundo princípios sãos, segundo os pontos de vista da fé, é o melhor meio de assentar sua vida religiosa em bases sólidas.[1]
• Requer-se tempo antes que a lei moral se revele à criança como distinta da autoridade. O que melhor ajudará essa descoberta será a observação de que os próprios pais se submetem às prescrições dessa lei moral. No dia em que a criança o tiver compreendido, a autoridade deixará de ser, a seus olhos, a razão determinante do bem e do mal: sua consciência moral terá realizado uma grande etapa.
• Por si mesma, a criança possui a tendência de julgar o valor moral de um ato segundo o seu aspecto exterior e seu resultado moral. Para formar-lhe a consciência cumpre levá-la a subir até a intenção, porque é nela, muito mais do que no gesto ou nas consequências, que reside a moralidade de um ato. “Quebraste esta xícara, por quê? Por falta de jeito? Por irreflexão? Por cólera? Por vingança?... — Denunciaste esse camarada que “colava” na classe, por quê? Por maldade? Pelo prazer de vê-lo castigado? Por que não era teu amigo? Por amor à justiça? Para que as composições não sejam ilegítimas? Para que ele não repita a fraude?... — Por que mentiste? Por brincadeira? Para te desculpares? Para evitar uma punição? Para te gabares?”...
• — Por que desobedeceste? Por que não escutaste? Por que não compreendeste o que te pediam? Por que te crês mais astucioso do que os outros? Por que julgas estar bastante crescido para obedecer? Por que te pediam algo muito difícil?”, etc.
• Convém não dar à criança como único motivo de ação: “Dá-me esse gosto.” A criança vê muito bem se dá ou não prazer aos que a amam, os quais têm o direito de mostrar se estão ou não contentes com ela. Mas há um escolho a evitar, qual seja o de deixá-la acreditar que o único princípio moral é de fazer-se apreciar. Arriscar-se-ia do mesmo modo a fazê-la escrava da opinião. É preciso, ao contrário, que a criança adquira uma consciência suficientemente formada para não confundir o bem com o que se aprova.
• As intervenções do educador devem ser de modo a que sempre tenham por consequência despertar na criança o senso da responsabilidade e da consciência pessoal. Virá, com efeito, um dia em que a influência do educador deverá ser substituída pelo sentimento do dever. Será então preciso que a lei moral — que era de certo modo exterior à criança, e lhe fora imposta pela vontade do educador — se lhe torne interior e não tenha outras sanções senão as de sua consciência[2].
• Para formar gradativamente a consciência da criança, é preciso julgar diante dela, e com ela, as ações de que se é testemunha ou que se encontram ao acaso de uma leitura: “Esse menino que brigou com um dos seus camaradas, fez bem ou mal? Por quê? Que terias feito em seu lugar?” À noite, sugerir-lhe fazer um exame de consciência e, se necessário, ajudá-la nisso, evitando, contudo, ver apenas os aspectos negativos do seu dia. Não deixar de conduzi-la a tomar uma resolução para o dia seguinte. A noite é um momento particularmente favorável em que a alma distendida se oferece mais à vontade à análise de si mesma.
• À medida que a criança cresce, é preciso ajudá-la a forjar um ideal, a achar uma divisa, a escolher um ponto de esforço, a tomar consciência de suas responsabilidades.
• Pouco a pouco deixá-la em liberdade para escolher por si mesma as suas decisões, ao contrário de sugeri-las por meio de frases como esta: “Se estivesse no teu lugar, acho que agiria assim...” 
• Não tenhamos ilusões: nossos filhos vivem atualmente num mundo impregnado de ideias falsas e de máximas duvidosas. Não temer, por conseguinte, demonstrar o sofismo de “slogans” perniciosos como: “É preciso aproveitar a juventude” — “Olho por olho, dente por dente” — “É melhor roubar do que ser roubado.” “O êxito pertence aos espertos.” “Para o que ganho, é demais o que faço.” 
• Não é preciso dizer que os pais devem evitar toda contradição entre os conselhos que dão e os atos que exigem.
• Para formar homens de consciência convém apelar para a consciência da criança e levá-la a sério.
• É possível quebrar uma vontade como se parte uma mola; é igualmente possível produzir um eclipse da consciência ou mesmo extinguir para sempre a sua luz benfazeja, substituindo a consciência pessoal da criança por uma consciência toda exterior. Arriscamo-nos a chegar a esse resultado desastroso por uma vigilância demasiado meticulosa que, pretendendo ver e saber de tudo, inutiliza a consciência da criança, pois uma faculdade sem emprego não tarda a se atrofiar. Trata-se, portanto, em definitivo, de uma ação nociva porque destruidora. Trata-se também de um jogo bastante perigoso porque a psicologia mais elementar nos ensina que a criança fará pouco caso de sua consciência se não se aperceber de que os seus próprios pais ou mestres delas também não fazem caso algum. A criança não cuida absolutamente de ser conscienciosa ao verificar que a sua consciência é considerada como uma quantidade desprezível.[3] 





[1] Mons. De Bazelaide, Arcebispo de Chambéry, Lettre Pastorale de 1951. 
[2] Pe. Viollet, “La Crise de l’Autorité”, na revista Éducation (1940).
[3] KIEFFER, op. cit., pág 11.