quarta-feira, 12 de junho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 5

Nota do blogue: Acompanhe esse Especial AQUI.

CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

CAPÍTULO II 
ESTUDO DA VOCAÇÃO 

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937


Necessidade de estudar a vocação.

28. — Suponho, jovem amigo, que de vez em quando experimentastes o desejo da vida sacerdotal ou religiosa. Um instinto secreto vos diz, no fundo do coração, que um dia subireis os degraus do altar ou sereis, como vossos mestres, um educador da mocidade. Donde vem este atrativo interior? Qual é a voz que se faz ouvir no fundo de vossa alma? Se for Deus que vos fala, é preciso obedecer-Lhe; se não for Deus que vos fala, é preciso não tomar compromisso algum. Como reconhecer a origem de vosso atrativo? Sabê-lo-ei pelo estudo sério de vossa vocação.


Será necessário demonstrar-vos que tal estudo é uma obrigação para vós? Não estais vendo toda a gravidade da determinação que ides tomar quando escolherdes um estado? Se vos enganardes de caminho, sereis certamente muito infelizes neste mundo e correreis grande perigo de vos perder por toda a eternidade. Acreditai bem que o negócio é muito sério: não se brinca com a vida nem com a eternidade; ninguém se deve arrojar às cegas numa carreira qualquer, sem fazer caso dos gostos pessoais nem da vontade de Deus.
Há dois defeitos igualmente perigosos que se devem evitar: desprezar o apelo de Deus e acreditar com demasiada facilidade em um apelo de Deus.

29. — Certos meninos, uns por falta de reflexão, outros por acanhamento, desprezam o chamamento de Deus. Ouvem muito bem, no fundo do coração, uma voz que lhes diz: «Não gostarias de me pertencer? Se me desses tua vida, se me sacrificasses as alegrias da terra, obterias a graça de ser meu representante entre os homens, ganharias uma das mais belas coroas no meu reino eterno.» Indiferentes a estas palavras, não prestam senão uma atenção distraída. Como receiam de largar os prazeres do mundo, arrojam-se para o jogo e uma vida de distrações, a fim de que a voz da consciência seja abafada pelos ruídos exteriores. Para qualquer pessoa, prestariam mais respeitosa atenção; estão com medo dos sacrifícios que o Pai celestial vai pedir-lhes. Que injúria não fazem a Deus por meio de tal procedimento!

30. — Outros, os tímidos, ouvem perfeitamente a voz interior que os chama. Mas estão com medo de falar, não sabem como exprimir o estado de sua alma, haviam de corar se fossem obrigados a descobrir todo o fundo de seu pensamento. Às vezes estariam com vergonha de revelar aos pais e deixar perceber aos companheiros as aspirações elevadas que nutrem na alma. Outras vezes permanecem mudos pelo simples efeito das circunstâncias. É debalde que os pais lhes perguntam: «Meu filho, que queres fazer?» Têm apenas uma única resposta: «Farei o que o Sr. quiser.» Meninos infelizes, destinados a muito sofrer, mais tarde, quando, mais corajosos por causa da idade, eles dirão: «Não estou onde eu deveria estar; meu lugar era na religião; um estúpido receio de criança me fechou a boca outrora e me impediu de falar.» Para que tenhais certeza de não contrariar a vontade de Deus, jovem amigo, estudai e falai.

Outro perigo consistiria em acredita-se chamado por Deus com demasiada facilidade. Nem todas as aspirações para a vida religiosa constituem uma vocação. Dois casos, com efeito, podem apresentar-se em que haja o atrativo interior sem que ele seja uma prova do chamamento divino.

31. — Quase todos os meninos, nos momentos de grande fervor sensível, experimentam uma verdadeira inclinação para a vida religiosa. A vida religiosa lhes aparece como um ideal tão puro, tão nobre, tão sobrehumano, que estão com vontade de elevar-se até ele e abraçá-lo para sempre. Nestes momentos há como que vigorosos esforços que transportam a alma, por algum tempo, até os picos mais altaneiros. Tais desejos, de ordinário, passageiros e sem grande influência sobre o procedimento, não são, porém, um indício seguro de vocação. Já os experimentastes, de certo, jovem amigo, pois que tendes a alma boa e sincera; vêm eles do céu ou apenas originaram-se em um coração bem disposto? Tal é a questão que deveis resolver.

32. — Alguns meninos consideram a vida religiosa como uma boa carreira, como um ofício vantajoso, onde se passa uma vida suave e tranqüila, ao abrigo dos penosos trabalhos que se abatem tão pesadamente sobre os operários e muitos outros homens. Desde a infância, ouviram contar ao redor de si: «Olhem como os Religiosos e os Padres são felizes; têm a existência segura; trabalham pouco, vivem bem, habitam em verdadeiros castelos... Tome esta vocação, menino, estará certo de que nada lhe faltará.» Semelhantes discursos convencem, às vezes, certas almas de meninos; deles resulta um vivo desejo de vida sacerdotal ou religiosa. Mas poderá uma aspiração que se origina no interesse, tornar-se uma verdadeira vocação? Sem dúvida, sentimentos humanos, terrestres, podem misturar-se a uma boa vocação, como a lama e a areia de um riacho se misturam às palhetas de ouro puro; mas dá-se o caso em que estes baixos sentimentos são os únicos e não vêm acompanhados de verdadeira vocação. Não será necessário discernir em vossa alma a natureza dos atrativos que a solicitam? Se eles vierem de Deus, haveis de segui-los; se vierem da terra, procurareis outro rumo.

Continuará...