quarta-feira, 19 de junho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 8

Nota do blogue: Acompanhe esse Especial AQUI.

CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

CAPÍTULO II 
ESTUDO DA VOCAÇÃO 

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937


Sinais de vocação

45. — Deus marca as almas que escolheu para Seu serviço. Ao diretor espiritual encarregado de dar uma decisão, não faz nenhuma revelação direta: manda-lhe apenas que examine a alma que o interroga e veja se possui o sinal divino. Daí resulta para vós, jovem amigo, a necessidade de revelar inteiramente vosso coração e pôr vosso diretor espiritual a par de tudo quanto se passa em vós. Para vos facilitar aquele trabalho, vou percorrer convosco os mais ordinários sinais de vocação. O atrativo.


46. — Frequentemente um sinal de vocação é o atrativo. Por atrativo entende-se uma inclinação do coração que dirige a alma para uma profissão de preferência a qualquer outra. O atrativo faz convergir todos os pensamentos, todos os sentimentos, todos os esforços, para um fim determinado. O objeto que vos ocupa o espírito, que colocais em primeiro lugar em vossa estima, que preferis a todos os outros, que desejais mais ardentemente, é o objeto de vosso atrativo. Por exemplo, o moço que tem atrativo para a vida militar, não sonha senão em manobras de soldados e divisas de oficiais; dirige todos os estudos a fim de ter bom êxito na carreira que deseja tomar.

É uma regra geral que ninguém deve entrar em uma carreira para a qual não tem gosto; sem atrativo, sem aptidões, sem amor pelo estado que escolher, o homem não pode deixar de sofrer e ter mau êxito.

Mas quando se trata do estado religioso, o atrativo é mais indispensável do que para qualquer situação no mundo. Começar um ofício sem gosto, é sempre coisa deplorável: ligar-se pelos votos de religião sem um gosto muito pronunciado para este estado, seria uma irreparável desgraça. Se houver uma vocação em que tenhais direito à liberdade, em que devais seguir a inclinação de vosso coração, em que não possais experimentar nenhum constrangimento, é certamente a vocação religiosa.

Que pena não teríeis um dia, no momento em que sentiríeis pesar-vos nos ombros o jugo de um dever austero, se não podíeis dizer então: «Este peso, eu mesmo o tomei, eu o quis; ninguém me violentou para impô-lo a mim: tomei-o porquê o amava; hoje, embora seja pesado, amo-o ainda e quero carregá-lo com valentia.»

Entretanto nem todos os atrativos são uma prova que Deus nos chama. Certos atrativos são o resultado do gênio ou de influências exteriores. Para que um atrativo venha de Deus e não da natureza, deve ser preciso, constante, provado, desinteressado, suave e forte ao mesmo tempo.

47. — Um atrativo é preciso quando se refere a um objeto perfeitamente determinado. Um sentimentalismo vago, que produzisse na imaginação certos estados quiméricos que se apagassem com a reflexão, não seria verdadeiro atrativo. Se Deus vos chama, há de dizer-vos claramente, no fundo do coração, o que quer de vós, porque vos quer, para que obras quer empregar-vos, no sacerdócio, no ensino, ou nas obras de caridade. Os desejos, que nasceram na oração e no recolhimento, persistem até no meio dos negócios práticos: uma visão nítida não se dissipa entre as realidades da vida.

Mas sozinho não podeis julgar deste caráter de vosso atrativo. Nos primeiros momentos, uma vocação não se mostra muito clara, nem precisa nas suas linhas principais; nem tão pouco a vida se desenrola numa profética aparição, até os detalhes mais ínfimos; enfim certos espíritos, de caráter sempre indeciso, são incapazes de exprimir com precisão o objeto de seus desejos. Por isso é que o Diretor espiritual é o único juiz competente que possa revelar-vos claramente o estado de vossa alma.

48. — Para ser constante, o atrativo deve ser um movimento ininterrupto do coração para seu objeto. Fracos e vagos no começo, os desejos vão crescendo, formulam-se com uma clareza cada vez maior, tomam posse da alma com um império cada vez mais irresistível. Como uma semente imperceptível no princípio, a vocação cresce pouco a pouco; acaba por tornar-se como uma poderosa árvore, que absorve toda a seiva da alma e abafa qualquer planta que queira germinar na vizinhança. Se vosso coração oscila como o pêndulo de um relógio, indo da direita para a esquerda, variando constantemente de direção, não se fixando em nenhum equilíbrio, acreditai bem que não é o Espírito de Deus que vos dirige; a ação d’Ele seria contínua; não cessaria de dirigir-vos, a despeito das perturbações causadas por vossa natureza, na direção do polo para o qual vos atrai.

Todavia, lembrai-vos de que um coração de me­nino está sempre mais ou menos solicitado por múltiplos atrativos. É inevitável que não tenhais horas de hesitação. Enquanto os magos iam procurando o Messias, a estrela que os guiava, desapareceu por algum tempo. Preparai-vos para suportar os eclipses da luz divina. Sobretudo quando por acaso cometerdes algumas culpas, frequentardes companhias perigosas, fizerdes leituras suspeitas, lembrai-vos de que vossas vistas intelectuais hão de turvar-se e não verão mais o astro que ainda está brilhando, contudo. Quando, nas horas de arrependimento, de oração e de reflexão, os desejos nascerem de novo, persuadi-vos bem que no fundo de vosso coração o atrativo permaneceu muito constante.

49. — Esta constância é tanto mais segura quanto mais provado for o atrativo. Um atrativo superficial, uma aparência de atrativo pode permanecer por muito tempo em uma alma que nada perturba: tais são os atrativos que se esvaecem na primeira dificuldade. Quando uma árvore resistiu por muitos anos aos ímpetos do furacão, julgais que tem profundas raízes no chão. Do mesmo modo um atrativo é poderoso, muito arraigado em um coração, quando triunfou de todas as tempestades. Tivestes que vencer a oposição da família? tivestes que lutar, para salvaguardar a virtude, contra os perigos das más frequentações? Conservastes, apesar dos sorrisos e das palavras de mofa dos colegas, vosso desejo de vida religiosa? Depois de ouvir dizer que vossos projetos eram insensatos, irrealizáveis, que exigiriam muito sacrifícios..., tendes esperado na Providência e conservado vossas aspirações? Quanto mais fortes forem os assaltos de que triunfastes, tanto mais seguro deveis estar que a mão de Deus vos sustentava a coragem e lutava a vosso lado.

50. — O sinal por excelência do atrativo divino, é a idéia sobrenatural. Quereis ser padre, quereis ser religioso? Para que isso? Alguém perguntava um dia a um menino de treze anos, porque desejava ser religioso, que coisas lhe agradavam neste estado: «Oh! respondeu ele, terei que trabalhar muito menos que meu pai.» Esta vocação toda natural e baseada no interesse, não era um apelo de Deus e não podia ter bom êxito; o menino não tinha intenção reta.

Duas coisas, nos religiosos e nos padres, agradam a certos meninos: a honra que os cerca e a felicidade material de que parecem gozar. Será para comer numa boa mesa, não vos calejar as mãos como os operários ou os camponeses, não sofrer os incômodos de uma situação a arranjar, que estais ambicionando o estado religioso? Será para gozar do respeito de todos, ocupar lugares de honra, trajar ornamentos de brilhantes cores, que desejais entrar no sacerdócio? Neste caso, acreditai bem que não é Deus que vos chama, porque falta-vos a intenção reta.

No menino que Deus chama, a piedade e a dedicação ditam todos os sentimentos. O sacerdócio e o estado religioso aparecem como meios de viver na intimidade de Deus, agradar-Lhe, não ofendê-lO, promover-Lhe a glória, trabalhar para a salvação das almas, servir utilmente a Igreja.

Este menino é animado de intenções retas.

De vez em quando, alguns motivos humanos se misturam também com estes fins sobrenaturais. Fica reservado ao vosso diretor espiritual o discernimento da natureza íntima de vossas aspirações; ele só pode dizer-vos se as preocupações humanas estão na raiz ou simplesmente na superfície de vossos desejos.


51. — Enfim, o sopro de Deus é, ao mesmo tempo, suave e forte, nunca violento. Por ser suave, não perturba, vai progredindo, não se irrita diante das dificuldades, mostra-se paciente com os obstáculos momentâneos, inspira a coragem de esperar. Por ser forte, não cede nem às ameaças nem aos atrativos contrários; uma vez que orientou um coração para um lado, não o abandona. Exclui qualquer mal-estar, qualquer precipitação. O que vem da natureza, de ordinário, é instável e precipitado: o que vem de Deus é perseverante e moderado.

Continuará...