sexta-feira, 18 de junho de 2010

São poucos os que amam a Cruz de Jesus Cristo

Livro II - Capítulo XI
(Imitação de Cristo)


São poucos os que amam a Cruz de Jesus Cristo

1. Tem Jesus muitos que amam Seu Reino celeste, poucos que carreguem a Sua cruz; muitos desejam as Suas consolações, poucos, os Seus sofrimentos; muitos são os companheiros de Sua mesa, poucos, de Sua abstinência. Todos almejam gozar com Ele, poucos querem sofrer algo por Seu amor. Muitos acompanham Jesus até ao partir do pão, poucos até ao beber do cálice de Sua paixão. Muitos admiram os Seus milagres, poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus enquanto não lhes bate à porta a adversidade; louvam-nO e bendizem-nO enquanto d'Ele recebem consolações. Se Jesus, porém, Se esconde ou deles se afasta por algum tempo entram logo a queixar-se e a cair em excessivo desalento.

2. Os que amam a Jesus por Jesus e não pela própria satisfação bendizem-nO tanto nas tribulações e angústias como nas maiores consolações. E ainda quando os não quisesse consolar nunca, eles O louvariam sempre e sempre Lhe dariam graças.

3. Oh! quanto pode o amor de Jesus quando puro e sem mescla de interesse ou de amor próprio! Não merecem porventura o nome de mercenários os que andam sempre à busca de consolações? Não dão provas de amar mais a si que a Cristo os que não pensam senão em seus cômodos e interesses? Onde se encontrará quem queira servir a Deus gratuitamente?

4. É raro encontrar uma alma tão adiantada na vida espiritual que esteja desapegada de tudo. O verdadeiro pobre de espírito, desprendido de todas as criaturas, quem o achará? “Tesouro precioso que debalde se buscaria até às extremidades da terra” (Prov. XXXI, 10). Se o homem abrir mão de toda a sua fortuna, isso é nada. Se fizer grande penitência ainda é pouco. Se adquirir todas as ciências, ainda está longe. Se tiver grandes virtudes e piedade fervorosa, muito ainda lhe falta; falta-lhe a coisa mais necessária. Qual? Que, tendo deixado tudo, deixe a si mesmo e saia totalmente de si, sem nenhuma reserva de amor próprio; e tendo cumprido o que julga se seu dever, sinta que nada fez.

5. Não tenha em muita conta o que por grande poderiam estimar os homens, mas com sinceridade se confesse servo inútil, conforme a palavra da Verdade: “quando fizerdes tudo o que vos foi mandado dizei: servos inúteis somos.” (Luc. XVII, 10). Poderá ser então verdadeiramente pobre de espírito e desapegado de tudo, dizer com o Profeta: “sou pobre e só no mundo” (Sl XXIV, 16). Ninguém, todavia, é mais rico, mais poderoso, mais livre do que aquele que soube deixar a si mesmo e a todas as coisas e colocar-se no último lugar.