segunda-feira, 14 de junho de 2010

Espírito de sacrifício

Espírito de sacrifício


Toda mãe que não sabe formar a vontade dos filhos é frouxa. Priva-os desta forma de uma força indispensável na vida. Pois é a vontade formada que evita a irresolução, levando o homem a decidir-se energicamente por uma atitude. É ela que contribui para a formação da inteligência, dá ao homem o domínio de si mesmo e assegura-lhe a autoridade sobre o mundo exterior.

Sendo prudente, a leitora seguirá as condições exigidas para formar a vontade dos seus. Assim terá cuidado de uma higiene apropriada, porque a vontade requer um instrumento adequado como é de fato um corpo sadio e bem desenvolvido. Sobretudo a educadora olhará para a formação dos bons hábitos.

Hábitos - eis aí a segunda natureza. Os maus convertem-se em verdadeiras tiranias e cativam a vontade. Os bons são outras tantas naturezas felizes que constituem um entusiasmo quase irresistível para o bem. Feliz a criança que foi obrigada a contrair bons hábitos! Tudo se lhe torna mais fácil na ordem da virtude. O mal já lhe é por natureza indesejável e a graça de Deus completa o resto para que haja perseverança no bom caminho.

Indagarás, leitora, de que modo deves proceder para formar hábitos abençoados nos filhos.

"Primeiramente urge começar cedo, bem cedo. Depois obrigarás teu filho a praticar a mesma ação sempre da mesma maneira. A mudança contínua lança a confusão nas idéias e produz a hesitação nos atos. Em seguida farás repetir muitas vezes os mesmos atos. Finalmente obrigarás os teus a praticar as ações com atenção. Sem este cuidado, o hábito degenera em rotina e deixa de ser completamente bom. Entre os hábitos que deves obrigar a contrair figuram: o bom caráter, a sinceridade, a ordem, a proibidade, o espírito de sacrifício." (P. Bethléem)

Não me é possível entrar em pormenores sobre cada um deles. Não faltam livros que tratam especialmente de todos estes hábitos. Aqui destaco tão somente o espírito de sacrifício.

Há mães que cedem às gulas aos caprichos dos filhos. Querem lhes poupar tudo, todo mau-estar, toda contrariedade, toda onda de frio ou de calor. Se negam alguma vez qualquer coisa, logo capitulam e cedem perante as reclamações e a cara feia, os gritos, etc. E elas dizem que isso é amor aos filhos. Prefiro chamar de crueldade para com eles toda essa frouxidão.

Ama quem educa para a vida e a vida não tolera os frouxos. Esmaga-os. Por ela só podem caminhar os que sabem derramar um pouco de sangue, no cumprimento do dever monótono e cruciante. Dever, trabalho, lutas, vitórias, perseverança na graça de Deus - tudo isso só se consegue pelo sacrifício.

Por isso importa acostumar a criança ao sacrifício. Urge formá-la no espírito de sacrifício, como se chama a virtude que consiste em saber sofrer por uma intenção que eleva. Meios para isso há vários.

Antes de tudo, leitora, não enerves ou amoleça a criança, com a frequência e o ardor das carícias. Ternura exagerada faz mal aos pais e aos filhos. Depois seguirás o método educativo da coragem inspirando a energia contra a dor, a renúncia corajosa a uma gulodice, a um prazer, a aceitação resoluta de uma punição merecida, a sinceridade na confissão de uma falta.

Isto feito, habituarás a criança ao sofrimento. A mãe que presta uma atenção apenas relativa às pequenas contrariedades do filho, vai habituando-os ao sofrimento. Vai mais longe a educadora prudente: obriga os seus a fazerem sacrifícios. Há quatro maneiras de obrigar: proporcionar a ocasião, ajudar a aproveitar as ocasiões, levar a provocar ocasiões e pedir contas, cada dia, dos sacrifícios feitos.

Uma coisa é de suma importância neste ponto, leitora. É preciso que teus filhos procedam sobrenaturalmente. Por isso é indispensável acostumá-los a oferecer a Deus seus sacrifícios de cada dia. É necessário dar-lhes ou sugerir-lhes uma intenção elevada e cristã no sofrimento. Por exemplo, fazer sacrifício pela conversão deste ou daquele pecador, pela consecução desta ou daquela graça de Deus.

Santa Teresinha, ainda criança, fez sacrifícios para converter um condenado, Lê-se na vida de São João, cura de Ars, que usava reunir as crianças e fazê-las rezar de braços abertos, sempre que queria obter a conversão de um pecador em particular.

A mãe cristã temo  recurso divino da santa Paixão de Jesus Cristo para influir no espírito e no coração dos pequenos cristãos. Há mães que sabem valer-se deste meio e já outras que vivem blasfemando ao lado da cruz. Que profanação!

(As três chamas do lar, do Pe. Geraldo Pires de Souza)

PS: Grifos meus.