sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A educação sobrenatural: XV- A vocação para a vida cristã no mundo

A EDUCAÇÃO SOBRENATURAL


XV - A VOCAÇÃO PARA A VIDA CRISTÃ NO MUNDO

"Falai, Verbo eterno, e falai assaz alto para vos fazerdes ouvir, apesar do ruído confuso que os meus sentidos e as minhas paixões produzem no meu espírito."
(Mgr.Pichenot)

Que comporta, sob o ponto de vista da educação, a vida cristã no mundo?
Duas coisas:

- A escolha duma profissão manual ou liberal;
- ordinariamente, pelo menos, o matrimônio.

1º- A escolha de uma profissão

Que se deve considerar, antes de mais nada, quando se trata de determinar a profissão do filho?
É preciso considerar, primeiro que tudo, as tendências e as aptidões...

Os pais seguem sempre fielmente esta recomendação?
Não, infelizmente.

Seja por ignorância, seja por egoísmo, seja por interesse, um certo número de pais dão a seus filhos, um gênero de vida que nem lhes agrada, nem lhes convém...

Que devem fazer os pais para evitar a decisão prolongada (escolha de carreira) nos filhos?
- Devem esforçar-se por deslindar as aptidões, as forças, as aspirações da criança que lhes é confiada;

- Devem ouvir, recolher, reter e explorar as pequenas confidências que certas circunstâncias fazem brotar do seu coração: "Eu quero ser religioso e tratar os doentes; eu quero ser religioso e orar por aqueles que nunca oram; eu quero ser soldado e morrer pela Pátria".

"... Mães portuguesas (Nota de rodapé: No original diz: mães francesas): deveis ter respeito por aquelas palavras, e alegrar-vos com elas. Não são a prova duma vocação, pela simples razão de que se não pode dizer: 'Sei uma língua difícil', quando se balbuciam apenas uma ou duas frases. Mas podem anunciá-la; e ficarão retraídas e nunca mais as ouvireis, se zombardes delas, se vos mostrardes indiferentes ao impulso desta pequena alma, que revelava o sacrifício e se dispunha para ele. São esses os mistérios em que tocais diariamente".
(René Bazin, Um dever maternal, artigo do Eco de Paris)

- Se estas confidências escasseiam completamente, os pais deverão provocá-las, multiplicando as situações susceptíveis de revelar a criança a si mesma: Corrégio, Lesueur, etc., encontraram, num instante, graças a uma circunstância reveladora, o caminho por onde deviam seguir.

Que mais se deve ainda considerar antes de determinar a profissão da criança?
- É preciso atender à saúde, para não se imporem à criança obrigações que não poderia cumprir, ou às quais não poderia fazer frente, a não ser se esgotasse antes da idade.

- É preciso atender ao nascimento, para não lançar a criança num meio social onde seria tentada a envergonhar-se de seus pais e de sua família.

3º- É preciso atender à fortuna, para não colocar imprudentemente a criança numa situação instável e expô-la, ao menor choque, a desabar na ruína.

Que se deve fazer depois de ter determinado a profissão da criança?
É preciso dar-lhe ou mandar-lhe ministrar uma educação em relação com a função especial que vier a desempenhar na sociedade.

Mgr. Dupanloup chama situação popular àquela que prepara  para as profissões operárias e agrícolas; educação intermediaria à que a encaminha para as profissões industriais e comerciais; e alta educação literária à que forma para as profissões liberais. (Da educação, T.1, p. 258)

2º- O matrimônio

Como se devem os pais encarar a questão do casamento de seus filhos?
- Com discrição.
- Com prudência.
- Com desinteresse.

I - A discrição

Sobre que deve exercer-se a discrição dos pais?
A discrição dos pais deve ter por objeto:

- a própria decisão;
- os meios de a fazer conhecer;
- a maneira de compreender a nova vida dos jovens esposos.

Por que devem os pais encarar com discrição a decisão que seus filhos podem tomar, com relação ao matrimônio?
Porque o "casamento exige uma verdadeira vocação" (Charruau, Às mães, p. 222); e esta vocação não deve ser considerada como absolutamente certa, pelo único fato de se tratar dum assunto que nem se relaciona com o estado eclesiástico, nem com a vida religiosa.

"Evitai aconselhar a vossos filhos o casamento, se eles não sentirem nenhuma inclinação para este estado de vida. Muito provavelmente não são chamados a ele; de outra forma é bem de crer que se sentissem atraídos".
(Charruau, Às mães, p. 222)

Qual seria o melhor meio de resolver prudentemente a questão?
Seria dar aos interessados alguns dias de recolhimento, de exercícios.

Qual seria o objeto especial deste recolhimento?
- Um estudo: o estudo da vocação em geral, e mais especialmente do chamamento para a vida do matrimônio.

- Uma promessa: a promessa de cumprir na vida conjugal, se para ela se for chamado, todas as obrigações que se impõe ao cristão.

Qual é o segundo objeto da discrição dos pais?
Consiste em não crer que, para conseguir colocar as suas filhas, seja preciso fazer de tudo de afogadilho, levá-las a todas as festas, vesti-las ridiculamente com trajes que dão na vista, etc.

"Fazer-se notar não é necessariamente distinguir-se. Longe disso".
(Nicolay, As crianças mal educadas, p. 159)

... O que é preciso, é preciso. O que quer dizer que as pessoas sérias sabem tão bem dosear a reserva e a complacência, as obrigações da vida de família e as concessões que convém fazer à vista da sociedade, a modéstia e a expansão, que a estima e a simpatia se ligam ao seu nome, que conseguem uma reputação sólida e de valor, e que obtém o melhor resultado, pelo emprego dos melhores meios.

Quais são as obrigações que a discrição impõe aos pais, após o casamento de seus filhos?
- Os pais devem eclipsar-se e condescender em nunca mais ocupar o primeiro lugar no coração do filho e da filha.

É Deus que assim o quer. "O homem deixará seu pai e sua mãe para se unir a sua esposa, e serão dois numa só carne". (Gen, II, 24) E, tanto pela força das coisas, como pela própria graça do sacramento, uma afeição nova se apodera do coração, soberana e dominadora; o amor destrona a piedade filial, embora a não extinga: Pode, acaso, uma filha desligar-se de seu pai? Não, sem dúvida.

Mas, este filho e está filha amam duma outra maneira; a hierarquia dos sentimentos sofreu modificações, e são os pais os sacrificados. Isto é penoso, mormente para a mãe; e não nos admiramos de que produza algumas vezes uma tentação de ciúme. Não era Branca de Castela, essa mãe tão perfeita, ciosa de Margarida de Provença, mulher de Luís?

Mas é preciso resistir a isso a todo o custo. Uma mãe cristã há-de encontrar na sua fé e na graça de Deus a força de se esquecer, de impor silêncio à natureza, e de repetir, sem amargura, as palavras de São João Batista: Oportet illum crescere, me autem minui- É preciso que ele cresça e que eu diminua (João, III). Para eles, a afeição e a felicidade; para mim, o esquecimento e a solidão.

- Os pais, quando puderem, devem tomar à letra o princípio: Cada um em sua casa.

"É raro, com efeito, que os jovens se encontrem bem em casa de seus pais; e é mais ainda que os pais se encontrem bem em casa se seus filhos. Influências que se cruzam no lar doméstico provocam cedo ou tarde choques e conflitos inevitáveis. A prudência está em saber evitar as complicações. Não há lugar para duas abelhas-mestras na mesma colmeia; é preciso que o novo enxame, que os novos esposos sejam senhores de si, se coloquem noutra parte e vivam em sua casa".
(Mgr. Pichenot)

Que, ao menos, sejam senhores da sua vontade.

(Catecismo da educação, pelo Abade René de Bethléem, continua com o post: II- A prudência)

PS: Grifos meus.