sábado, 27 de março de 2010

Família numerosa

Conferência XIV - Dom Tihamér Tóth
Família numerosa


"Tantos botões em vossas roseiras, tantas pérolas para vossas coroas!"

... A Igreja de Cristo, com grande coragem, levantou a voz em favor do filho; hoje ainda, ela exige a inviolabilidade dos direitos do filho que ainda não nasceu; mas não se esquece dos sacrifícios imensos que custam aos pais a existência e a educação de vários filhos.

É justamente porque a nossa santa Religião sabe bem o que significa, em nossos dias, educar uma família de cinco ou seis filhos, que ela rodeia de grande respeito os pais heróicos que fazem a Deus este sacrifício, mas ela nunca pode permitir que se tenha o direito de agir de modo contrário ás leis divinas, e que se tenha o direito de impedir a vinda do filho por meio de intervenções criminosas.

Agora examinemos mais de perto as dificuldades invocadas por certos esposos para afastar o filho. Elas não são insolúveis para as almas generosas e realmente cristãs, de modo que o homem não contrarie as leis de Deus.

*Antes porém de examinar sucessivamente às objeções formuladas contra a presença do filho, quereria fazer uma advertência preliminar.

Quando a religião faz um juízo muito severo contra os esposos que tornam estéril sua vida conjugal por meio culpáveis, ela não repreende, em momento algum, os esposos que não cometeram falta alguma neste ponto e que aceitariam, com bastante alegria, os filhos, mas aos quais Deus privou desta alegria. Ela estaria longe de repreendê-los por um estado de coisas do qual não são responsáveis.

Pois há bastante tristeza em sua alma; eles sentem bem que lhes falta alguma coisa de essencial para a sua felicidade.

Não os repreendo, quero antes inspirar-lhes alguns pensamentos consoladores, e indicar-lhes até um meio de aproveitarem esta situação.

- O traço essencial da alma cristã é a convicção de que tudo o que Deus faz ou tudo o que Ele permite, Ele o faz ou permite segundo um plano. Se Ele não dá filhos a estes esposos, apesar de suas fervorosas orações, é que há nisto uma intenção particular.

Qual a intenção? Talvez a de lhe fazer consagrar mais suas forças a alguma grande causa religiosa, ou ao bem comum, ou ao serviço desinteressado do próximo. Ou talvez Deus o permita a fim de que haja pessoas sem filhos que cuidem de pequeninos órfãos ou de crianças pobres e infelizes. Quantas crianças na miséria sobre a terra! Assim houvesse muita gente para ajudá-los...

Tudo isto, porém, não é senão uma digressão; deste assunto não falaremos mais nesta palestra.*

Por que não querem filhos?

Qual é esta palavra de ordem? Quais os pretextos invocados, muitas vezes, por esposos receosos de filhos? Olhemo-los frente a frente.

Razões financeiras

A objeção mais freqüente é a situação econômica difícil.

"Amamos os filhos, mas não temos com que sustentá-los. Um filho é o suficiente, não podemos ter mais". Quantas vezes não se ouvem estas frases, embora sob formas diversas.

Mas se observarmos mais de perto os que assim se lamentam, e como vivem os que não podem ter filhos, chegaremos certamente a uma constatação muito curiosa. É que na maior parte dos casos a causa do receio de ter filhos não é a miséria, mas, pelo contrário, é o bem-estar. Por incrível que pareça, no entanto, é assim.

Examinemos a história desta doença: Donde vem essa epidemia que arruína a vida da família. Foi entre as famílias dos operários ou camponeses que começou esta moda de não ter senão um filho, ou mesmo nenhum? Começou ela entre as famílias que, pela sua pobreza, tinham o direito de temer não possuir bastante pão para tantas bocas esfomeadas?

Certamente, não. Inegável que esta doença mortal para os povos apareceu em primeiro lugar entre as famílias abastadas, onde haveria pão suficiente a até bolo para os cinco ou seis filhos, entre as famílias onde a sede de prazeres e a licença dos esposos preferiram as comodidades e tranquilidade de uma existência sem filhos. Isto é infelizmente um fato inegável.

Não olhamos, contudo, só o passado; mas também o presente. Que vemos atualmente? Em geral esta objeção não é formulada por aqueles que ganhando pouco têm uma casa com um quarto e uma cozinha e vários filhos; mas, ao contrário, pretextam dificuldades econômicas os que, em um apartamento coberto de tapetes e ornado de quadros célebres, não têm senão um filho, mas possuem além disso uma empregada para tudo, uma cozinheira, uma governanta inglesa, dois ou três pequeninos cães bem ensinados e revestidos de belos casacos.

"Nossos meios não nos permitem mais filhos", dizem esses pais. São eles suficientes para os concertos e bailes, para as viagens e vesperais, para as temporadas na praia e modas, para os jantares e partidas de cartas, para os autos e cães. Mas não para os filhos.

Sinto que digo neste momento coisas amargas, mas olhai ao redor de vós. A maior parte das famílias não têm mais filhos, precisamente porque fazem mais despesas e vivem mais luxuosamente do que lhes permite a situação. O receio de ter filhos é mais forte, não aí onde se vive melhor mas sim onde os pais, indiferentes quanto à religião, não vêem no grande número de filhos, senão um encargo que reduziria sua liberdade e tornaria impossível o seu luxo.

Os esposos religiosos não deveriam pensar assim. Para os pais religiosos é sempre uma alegria, quando um filho nasce na família: uma alegria porque se recordam da maravilhosa promessa feita outrora por Nosso Senhor Jesus Cristo, e cuja melodia ressoa incessantemente a seus ouvidos, a cada hora difícil, a cada noite de insônia, a cada minuto de sacrifício: "Aquele que receber em meu nome um desses pequeninos, é a mim que recebe" (Mt. 18,5).

Existem para os pais promessas mais consoladoras e mais confortantes que a vinda de Nosso Senhor, cada vez que um novo filho nasce na família?

Não temais, pois, se tiverdes mais filhos. Não temais ficar por isso mais apertados. Porque o coração dos pais é como lareira ardente: quanto mais combustível aí se põe, mais ele arde. O coração daqueles que não tem filhos é frio. O primeiro filho acende a primeira chama e amor dos pais; cada novo filho aumenta-a, e mais anima.

Falando, porém, assim, parece-me ver entre este ou aquele dentre os que me ouvem (lêem) dizer:
"Vou escrever ao pregador, É fácil dizer do latar, da cátedra, porque ele não conhece a vida".

Não me escrevais, não. Eu a conheço. Sei mesmo que há realmente, por causa das miseráveis condições materiais de hoje, famílias que receiam com razão a vinda de um novo filho, porque não poderiam sustentá-lo.

Que lhes diremos nós? Que lhe diremos, quando em sua amargura, eles não sabem mais quase o que dizem?

O ponto de vista católico é duro e severo, dizem eles. Já não há tanta miséria na terra? Já não falta o pão aqueles que vicem? E eis o Cristianismo a proclamar que é um pecado defender-se contra os filhos. A Igreja não tem coração e nem indulgência!

Apresentai esta acusação em toda a severidade, para que vejais que a Igreja sabe de tudo isto. Como não teria ela compaixão de todos aqueles que, em o merecerem, estão na miséria? Como não haveria ela de saber que, infelizmente, famílias realmente religiosas, por causa dessas dificuldades, ficam em uma terrível alternativa?

Para evitar mal entendidos, declaremos claramente que a Igreja nunca teve a idéia de que os pais pudessem pôr no mundo sempre mais filhos, irresponsavelmente. Nada disto. Há famílias que podem educar, convenientemente, os dez filhos, há outras que não podem educar mais que um ou dois. A Igreja o vê bem, ela só não o permite que a limitação de números de filhos se realiza por intervenções culpáveis, manchando o santuário da família.

Quando por sérias razões a família não pode mais aceitar filhos, é preciso para que ela não os aceite mais, recorrer à castidade conjugal, e não a meios criminosos.

O homem moderno gosta de ouvir falar de tudo, menos de uma coisa: Não quer ouvir falar do domínio de si. O homem que aprendeu dominar as suas forças mais selvagens do mundo material, esqueceu de aprender a dominar a si mesmo, esqueceu e, se for preciso, negará que todas as grandes obras do passado, no terreno da civilização material ou da intelectual, são o fruto de renúncia.

Mas, enquanto que a santa Igreja exige sem reserva a pureza moral da vida do casado, ela não cessa de exigir também para as famílias condições que tornem possível a observação da castidade conjugal, pois se conhecemos que para muitas famílias na realidade é difícil observar as leis divinas por causa da situação econômica atual, não se segue que tenham agora o direito de mudar a lei de Deus; pelo contrário, é preciso transformar a situação econômica.

A lei divina é eterna e os homens não tem o direito de tocá-la. Mas as leis econômicas não são eternas. Elas dependem das transformações a que estão sujeitas as instituições da vida atual. Se o sol e o meu relógio não se combinam, eu não posso tocar no sol, mas somente no relógio.

Quem não vê a grandeza da tarefa que incumbe neste ponto à legislação? Com efeito, há hoje ainda homens que não têm família para sustentar, mas dissipam em uma só noite somas que bastariam para alimentar, durante a semana, várias famílias numerosas.

Enquanto a Igreja corajosamente levanta a voz em favor dos filhos, e assim defende com eficácia o interesse da nação, a legislação civil não tem o direito de olhar, com indiferença, a luta difícil em que ela se empenha em favor da criança, mas deve, por inúmeras medidas legais, por intervenções do domínio educativo, impostos fiscais, por abonos e outros meios materiais, favorecer as famílias numerosas.

Razões de saúde

Ao lado das preocupações materiais tem-se o costume de invocar razões de saúde para recusar ter novos filhos, "os filhos fazem envelhecer... tiram a força das mães... podem até custar-lhes a vida...!" Tais são os temores de alguns.

Cada vez, porém, que ouço falar dessas apreensões, cada vez que ouço falar de jovens que receiam ter filhos, "porque elas envelhecem", e "põem em perigo a saúde", recordo-me da resposta de um célebre médico francês. Uma senhora lamentava-se de diversos sintomas de doença. O médico contentou-se em perguntar-lhe:

- Senhora, quantos filhos tem?
- Três, respondeu a senhora.
- Pois bem, replicou o médico. Quando tiver cinco, desaparecerão por si mesmas todas estas enfermidades.

Pois é verdadeiramente maravilhosa, a força que há nos braços de um pequenino filho. Como ele une cada vez mais, dia a dia, o coração dos seus pais. Como os adultos se tornam novamente crianças sorridentes, quando cuidam de um filho! Com que palavra de ternura a mãe sabe falar a seu filhinho! Com que precaução, e orgulho, o pai leva nos braços robustos o seu filho.

E como o semblante desses dois adultos desaparece toda a preocupação! Como seus olhares se tornam doces! Como o sorriso há tanto tempo talvez desaparecido, reaparece em seu rosto, quando olham o filho!

Tal é a força rejuvenescedora do filho, protegendo o enfraquecimento precoce, a aspereza, o tédio da existência! Nos lares, porém, onde não brilha o sorriso da criança, a velhice cedo aparece, a alma dos esposos sem filhos é mais vítima da arterioesclerose que seu corpo.

Mas objetará talvez alguma jovem, eu não quero diversos filhos porque me envelhecem prematuramente.
Pois bem, que responderemos nós?

Vistes já, com certeza, nestas belas tarde de maio uma árvore toda florida banhada pelo brilho radiante do sol que se põe? É a imagem da noiva de pé ante o antar no dia de seu casamento.

Sim, é bela a jovem árvore florida.

Mas é ainda mais bela quando desaparecido o sinal de sua beleza exterior, quando caídas as suas flores, aparecem em seu lugar os pequeninos botões. E a árvore se alteia apesar dos ventos e das tempestades, arrasta o calor e o frio, bebe incansavelmente as águas da chuva e os raios do sol, para que um dia, chegado o seu outono, o tronco possa apresentar seus ramos cobertos de frutos.

Se todas as jovens, que se inquietam pela sua beleza, refletissem: é bela a árvore ornada de flores na primavera, mas esta beleza não tem finalidade, e nem significação se não houver frutos...

Vamos terminar esta instrução. Queria reforçar os princípios e os enunciados apresentados uma outra idéia inteiramente nova, que até aqui eu deixei de lado, mas quero lembrá-la terminando...

Monstruoso câncer das idéias mundanas e frívolas. É uma expressão forte?

Pode-se, porém, empregar uma outra expressão, quando se lê em uma carta de pessoas casadas:

"Desde o início concordamos em não ter filhos. Sem filhos é se mais livre. Somos jovens e queremos aproveitar a vida. Mais tarde pode-se pensar em um filho".

Estará morta toda a consciência destes jovens?
Se eles ignoram a responsabilidade que tem diante de Deus não sentem ao menos a falta que cometem contra a Pátria? Pois a nação não é só a planície e a montanha, a fábrica, os caminhões de ferro; a nação é um grande número de homens fortes e moralizados.

"Mais tarde pode-se pensar em um filho!"
É horroroso imaginar o tesouro que este terrível modo de pensar arrebata à nossa nação!...

Escutai agora as advertências de nossa Igreja.

... Que quer a Igreja de Cristo? Nada quer senão que cada um fale com santo respeito da mãe de família que espera o nascimento de um filho, e sobre cuja fronte brilha um raio de coroa da Bem-aventurada Virgem de Belém.

Que quer a Igreja de Cristo? Que cada um levante a voz contra estes esposos que gostam de educar gatos e cães do que filhos. Que quer a Igreja de Cristo? que cada esposo e cada esposa ouça estas palavras de Nosso Senhor: "Aquele que receber em meu nome um desses pequeninos, é a mim que recebe" (Mt. 18,5).

Que quer enfim a Igreja de Cristo? Quer que realize, sempre mais para mãe, a promessa de São Paulo, assegurando-lhes que cada vez que dão ao mundo um novo filho adquiriram muito para a vida eterna. Ou então, como se exprime um provérbio húngaro:

"Tantos botões, em tua roseira, outras tantas pérolas para tua coroa".
Compreendestes? Ouvistes, mães de família?

Eis a conclusão de hoje:
Tantos botões em vossas roseiras, tantas pérolas para vossas coroas! Amém.

(Excertos do livro: Casamento e família - Dom Tihamér Tóth)

* Houve um acréscimo no texto, onde o autor faz uma pequena divagação sobre os esposos não agraciados com filhos. (27/03/2010 - 20:43)
PS: grifos meus