domingo, 21 de março de 2010

“Escolhe bem”

“Escolhe bem”


Estuda o caráter daquela que há de ser tua companheira. O casamento é um contrato entre dois e por toda a vida. M. de la Palisse teria dito, ser verdade mui clara á todos nós. Todavia é sempre oportuno aqui, recordá-lo.

Os esposos, diz com graça. A. Daudet, são muita vez uma “baixela desemparelhada”. A tua “metade” não será de fato uma “fúria”? Esta mulher mundana, ricamente trajada, é uma fúria vestida a última moda.

Outros se vêem finalmente a convencer, com espanto, de que se casaram com uma tempestade; e Pailleron tinha razão em dizer: “muito palavreado antes, poucas palavrinhas ao depois, e grandes palavrões por fim”.

Com um mau casamento o homem faz entrar em sua vida uma mulher, perversa, importuna como um pesadelo, movendo-se sobre dois pés. Bela é a observação e Taine em Th. Graindorge: “Observam-se por três semanas, amam-se por três meses, discutem por três anos, toleram-se por trinta anos...e os filhos recomeçam a comédia”.

Se fores prudente, atentamente medita, porque feita a promessa e dado o passo, “já não há meio de se voltar atrás, com arrependimentos. O casamento é a ordem em que se faz a profissão antes do noviciado, e, caso houvesse um ano de provação, como para a profissão nos mosteiros, poucos seriam os professos”. (São Francisco de Sales)

Não deves procurar tua companheira entre as jovens levianas. O juízo delas é ainda mais curto do que a saia que usam! E há nelas tão poucas idéias como a miséria do estofo que cobre-lhe os braços e ombros. Os seus sentimentos são um tecido tão pouco sólido e resistente qual o das suas meias, como teias de aranha.

Estas pequenas, apenas são grandes, pela altura dos seus tacões, e preciosas só pela quantidade dos seus adereços.

O seu cérebro não é um sino capaz de dar o belo som grave da reflexão, é uma campainha em que só tilinta o baladar das vaidades e do prazer.

Bagatelas, leviandades = 100.
Pensamentos sérios = 0.

Esses seres levianos são tudo o que quiserem: borboletas, colibris... mas mulheres, não, oh não!

Não cases nunca com uma jovem sem religião. Dos casamentos desiguais, o pior é o das almas. Se queres que teu amor pendure, dosa-o com sentimentos divinos. Imita os esposos de Caná: convida Cristo ás tuas núpcias.

Outros para presidi-lo, convidariam a Baccho. Hão de um dia penitenciarem-se.
Em lares sem religião, que de vidas se apresentam unidas, e que são apenas paralelas!...

Paralelas: lembra-te de tuas aulas de geometria?... São duas linhas que nem ao infinito se encontram!

Naquele belo par, que em público continua a dar-se o braço, de muito tempo houve o divórcio das almas. Uma abertura profunda se fez entre aquelas duas existências assim como, nos Alpes, uma fenda de cem metros, separa duas geleiras cujas bordas parecem, á primeira vista, estar em contato.

O cavalheiro e a senhora são estas duas geleiras.
Estão um do outro tão perto e tão longe!

Oh céus! Que de suspiros, que de soluços, por vezes, se ocultam por traz de elegantes frontarias e em dourados salões? A mesa, em presença dos convivas, sorriem-se. Em particular, engalfinham-se!...

... Em verdade, cada um dos sexos busca no outro aquilo de que carece: procuram por assim dizer o seu ângulo complementar. A jovem procura, sobretudo, no homem o que ela não tem: a força. O homem procura, sobretudo, na mulher aquilo de que se acha desprovido: o encanto, a graça.

É legítimo, é normal encantar-se na beleza daquela com quem queres casar-te. (Sobretudo, não, porém, exclusivamente e nem sempre.)

Todavia não deves olhar unicamente ao encanto das linhas... Por volta dos quarenta anos e ás vezes mais cedo, perde-se o ar de gentileza e de frescor, e só ficam as qualidades sérias.

A eterna primavera cantam-na sempre, e não se realiza jamais.
Um dia o espelho lhe dirá que está velha.
E saberá ela o que é o espelho?

Até os trinta anos: um “conselheiro de encantos”. De trinta a cinqüenta: um “juiz severo”. A partir dos cinqüenta: uma “testemunha penalizada”.

... Foi ela boneca ou foi mulher? Soube ser mãe? Quis ser mãe?...

Quando um jovem pensa no casamento, a quem deverá ele escolher para esposa? Uma mulher. Uma mulher, repito. E não é inútil relembrá-lo, porquanto hoje em dia menospreza-se isto, para esposar brasões ou um cofre cheio de ouro.

O casamento não deve ser uma acumulação de dotes, mas uma união de corações.

(Excertos do livro: A Grande Guerra – Pe. Hoornaert)

PS: Grifos meus