quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Da paciência nas injúrias e perseguições (Santo Afonso de Maria Ligório)


Outra ocasião de praticar a paciência, nos oferecem as injúrias e perseguições a que, às vezes, estamos expostos. Não cometi falta, dizes, por que deverei suportar pacientemente essa ofensa ou perseguição? Deus, certamente, não exige tanto! Mas não sabes o que Jesus Cristo respondeu a S. Pedro Mártir, quando ele se queixava de ter sido encarcerado injustamente? Senhor, que mal fiz eu para ter de sofrer esta perseguição? Perguntava o santo. E Jesus crucificado lhe respondeu: E que mal fiz eu para ser pregado nessa cruz?

Se, depois, teu Salvador, alma cristã, por amor de ti, quis sofrer a morte, não é muito se tu, por amor Dele, receberes ultrajes. É verdade que Deus não quer o pecado daquele que te ofende ou persegue, mas ele quer que suportes pacientemente, por amor Dele e para teu próprio bem, essas adversidades. "Se não temos o defeito que nos atribuem, diz S.Agostinho (ln os. 68, s. 1), temos, contudo, outros; temos os nossos pecados, que nos tornam merecedores não só desses castigos, mas de outros muito maiores".

Santa Teresa nos deixou em seus escritos a seguinte memorável máxima (Cam. Da perf., c. 14); "Quem tende à perfeição nunca deverá dizer: Fizeram-me uma injustiça. Se não quiseres levar nenhuma outra cruz além daquela que mereceste, a perfeição não é para ti". Insultos e injúrias constituem a única alegria procurada pelos santos".

S.Filipe Néri suportou, durante 30 anos, em sua residência, na igreja de S.Jerônimo, em Roma, muitissimos maus tratos de um miserável; apesar disso, não queria abandonar esse lugar, não obstante os convites de seus filhos espirituais, que o queriam junto de si, em seu Oratório, recentemente fundado; afinal, só obrigado por uma ordem expressa do papa consentiu em habitar com seus irmãos de Ordem.Todos os santos tiveram de sofrer perseguições aqui na terra.

S.Basílio foi acusado de heresia junto ao Papa S.Damaso. S.Cirilo de Alexandria foi condenado como herege em um Concílio de 40 bispos e deposto de seu bispado. S.Atanásio foi acusado de magia e S.Crisóstomo, de impureza. S.Romualdo, depois de ter 100 anos, foi acusado de horrendo crime, de forma que se dizia que ele merecia ser queimado vivo.

De S.Francisco de Sales, inventaram que ele tinha comércio ilícito com uma mulher, e essa calúnia passou pesou por muito tempo sobre ele; só depois de três anos é que veio à luz sua inocência. Entrou uma vez no quarto de S.Liduína, uma mulher, que começou a dirigir à santa as mais abomináveis palavras que imaginar se possam. Conservando Santa Liduína a tranqüilidade de costume, aquela miserável se enfureceu tanto que escarrou na face da santa apesar disso, permaneceu ela inabalável em sua paciência.

Não pode ser de outra forma: "Todos os que quiserem seguir a Jesus Cristo sofrerão perseguição", como diz o Apóstolo (II Tim 3, 12). Portanto, se não quiseres sofrer perseguição, nota S.Agostinho, é para temer que ainda não começastes a Imitar a Jesus Cristo. Quem foi mais inocente e santo do que nosso Salvador? Apesar disso, foram os homens tão longe na sua perseguição que o pregaram na cruz, na qual expirou, saturado de chagas e opróbrios.

Para nos ensinar a suportar pacientemente as perseguições, São Paulo nos exorta a pensar constantemente em nosso Salvador Crucificado. Estejamos convencidos que, se suportarmos com paciência todas as injúrias, Deus mesmo tomará a si nossa justificação; e, se ele permitir que levemos uma vida desprezada, o faz unicamente para recompensar com mais glória, no outro mundo, a nossa paciência.

Em uma palavra: humilhação, pobreza, dores, toda a espécie de tribulações são, para uma alma que não ama a Deus, uma ocasião para se afastar ainda mais Dele; para uma alma, porém, que está cheia de amor de Deus, são elas uma razão para mais estreitamente se ligarem a Ele e mais perfeitamente amá-Lo. "Muitas águas não puderam extinguir a caridade", diz o Espírito Santo (Cant 8, 7); sim, as tribulações, por maiores e mais numerosas que sejam, não podem apagar, em um coração que nada mais ama além de Deus, a chama do amor, antes, pelo contrário, a aviva cada vez mais.

(Texto extraído do periódico bimestral O Desbravador - ANO XXX JANEIRO-FEVEREIRO 2009 349/350 - pág. 12. Recebi por e-mail)