quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Exercitar nossa vontade na virtude e valentia espiritual

Assim como a posse do bem alegra o coração, a vitória contra o mal sacia a coragem

Por entre a inumerável multidão e variedades de ações, movimentos, sentimentos, inclinações, hábitos, paixões, faculdades e potências que estão no homem, Deus estabeleceu uma natural monarquia na vontade, que manda e domina sobre tudo o que acha neste pequeno mundo...Mas esse domínio da vontade pratica-se, por certo, mui diferentemente...

... É tolice mandar um cavalo que não engorde, que não cresça, que se não empine; se desejardes tudo isso, levantai-lhe a grade da manjedoura; não se lhe deve mandar, deve-se sofreá-lo para domá-lo.
Sim a própria vontade tem poder sobre o entendimento e sobre a memória; porque, de várias coisas que o entendimento pode entender, ou de que a memória pode lembrar-se, a vontade determina aquelas a que quer que as faculdades se apliquem, ou das quais quer que elas se desviem.

...Teu apetite está sob ti, e dominá-lo-ás. Teu inimigo pode excitar em ti o sentimento da tentação; mas, se quiseres, podes dar ou recusar o consentimento. Se permitires ao apetite levar-te ao pecado, então estarás sob ele, e ele te dominará, porque quem quer que faz o pecado é servo do pecado.
...Em suma esse apetite sensual é, na verdade, um súdito rebelde, sedicioso, irrequieto; e cumpre confessar que não o poderemos por tal modo desfazer, que ele não se eleve, não tome a iniciativa e não assalte a razão; mas, no entanto, a vontade é tão forte acima dele, que se quiser, pode rebaixá-lo quebrar-lhe os intentos, e repeli-lo, visto que é repeli-lo bastante o não consentir nas suas sugestões.
... Sobre todo esse povo das paixões sensuais a vontade mantém seu império, rejeitando-lhes nas sugestões, repelindo-lhes os ataques, impedindo-lhes os efeitos e, quando menos, recusando-lhes fortemente o seu consentimento, sem o qual elas não podem fazer mal, e pela recusa do qual elas ficam vencidas, e mesmo, com a continuação, abatidas, esmorecidas, atenuadas, reprimidas, e, senão inteiramente mortas, ao menos amortecidas, ou mortificadas.
E é a fim de exercitarmos nossas vontades na virtude e valentia espiritual que essa multidão de paixões é deixada em nossas almas.

(São Francisco de Sales - Tratado do amor de Deus)
PS:grifos meus