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21. A EDUCAÇÃO DO BOM HUMOR
A fim de que as energias da criança não corram o risco de
fraquejar, uma educação forte deve ser ao mesmo tempo uma educação alegre.
• Para transformar a vida em algo de belo, é
preciso, com a graça de Deus:
1. Ser uma consciência.
2. Ser um caráter.
3. Possuir uma boa dose de otimismo que
permitirá, em qualquer circunstância, encarar homens e coisas pelo
seu lado bom.
• O otimismo, e bom-humor, o caráter alegre são
expressões semelhantes — ressalvados certos matizes — de uma realidade
preciosa que permite afrontar a vida com o máximo de possibilidades de
êxito para si próprio, e de felicidade para os outros.
• Uma atitude positiva em face de uma situação
difícil permite conservar a lucidez e o sangue frio necessários
para encontrar as soluções mais vantajosas. A atitude negativa só
pode aumentar os riscos do fracasso e do aniquilamento.
• Desde os
primeiros anos, é preciso habituar a criança a ter um sorriso para tudo:
para os pais, sem dúvida, para os amigos, para as visitas; mas também para
a vida com as suas contrariedades, suas dificuldades, seus obstáculos.
• Não é cerrando os punhos e batendo numa rocha
que obstrui o caminho que conseguiremos afastá-la. Usamos inutilmente
os nervos e os músculos. Olhar o obstáculo com um sorriso far-nos-á
descobrir mais facilmente o meio de contorná-lo.
• Desânimo é uma palavra que deveria ser banida
para sempre do vocabulário de um cristão ou de uma cristã dignos desse
nome. E por isso é preciso que a própria ideia dessa palavra nem sequer
aflore ao espírito.
• O clima da família — e, é preciso acrescentar, do
próprio quadro em que a criança evolui — contribui poderosamente para orientar
uma alma em busca de uma atitude positiva ou negativa. Onde os pais não
fazem outra coisa senão gemer, criticar, queixar-se de tudo e de todos,
onde o sol nunca penetra, onde tanto as paredes como os dias são
cinzentos, como espantar-se de que a criança só encare a vida sob o seu
aspecto mais sombrio, e que mais tarde, mesmo nos dias felizes em que a
alegria se imponha, ela se recuse a desfrutá-la e a extrair-lhe novas
energias sob o pretexto de “isto não dura”?
• Por que falar às crianças com um rosto severo?
Não conseguiremos mais com a própria firmeza quando se torna amável e
sorridente?
• A maioria dos pais desconhece as riquezas que
perdem para si mesmos e para as crianças, não lhes sorrindo.
O sorriso suaviza, acalma, pacifica, encoraja, estimula, tonifica. É como
um raio de sol “sem o qual as coisas não seriam o que são”. E, depois, é
tão fácil quando se compreende a sua importância, mesmo que custe um
pouco! Os resultados são tão grandes! Que pena privarmo-nos desse bem!
• Uma criança que não sorri, uma criança que não
canta, é uma criança votada à infelicidade e à doença.
• Para dar um caráter feliz a uma criança, nada
melhor, em primeiro lugar, do que a atitude alegre e sorridente
dos pais que se esforçam para mostrar-lhe o lado bom das coisas e dos
acontecimentos, mesmo dos mais aborrecidos, sem esquecer a qualidade das
pessoas com as quais se tem de lidar. Exemplo: mamãe projetou um passeio,
mas chove... ou então sair apesar disso, mostrando com o sorriso que
não se tem medo da chuva e que se traz o sol em si mesmo; ou ainda,
se chove de tal maneira que não se possa razoavelmente sair, alegrar-se pela
improvisação de uma tarde de divertimento dentro de casa.
Quando os pais têm o dom de fazer com que os filhos reajam
alegremente diante do imprevisto, vençam as contrariedades sem dar mostras
disso, aproveitam sem pensamento oculto as menores ocasiões de felicidade
— o ambiente familiar está sempre iluminado.[1]
Nunca é demais insistir: ser feliz é um dever para
com os outros. Diz-se muito bem que só é amado quem é feliz; mas todos
esquecem que essa recompensa é justa e merecida, porque a infelicidade, o
tédio e o desespero estão no ar que respiramos; assim, devemos o
reconhecimento e a coroa de atleta aos que digerem os miasmas e
purificam de qualquer forma a vida em comum pelo exemplo enérgico.[2]
• Não temamos confiar aos nossos filhos as nossas admirações
e os nossos entusiasmos. Há tantas coisas belas no mundo, na obra dos
homens como na obra de Deus, que decerto é uma pena não fazer delas um
trampolim para subir até Ele, que é a suprema Casa da Alegria.
• Os pais verdadeiramente educadores devem
renunciar à cultura mórbida do descontentamento que envenena
a atmosfera familiar, que leva à misantropia e ao desânimo, e cria
nos jovens quer uma impressão de asfixia, quer o medo de viver.
• Cumpre não oferecer às crianças uma imagem demasiado
sombria de si mesmas. Por muito insistir sobre o que as separa da
perfeição, só fazemos aumentar os obstáculos diante delas. A maior parte
dos educadores continua a exigir quase tudo da vontade das crianças, não
se preocupando em facilitar-lhes o esforço ao agir sobre a sua imaginação.
Quando se diz a uma criança: “És mau, torna-te bom”, a
proposição “És mau” começa a incrustar no pensamento do interessado a
convicção da sua maldade congênita, absoluta, incurável; diante do que o
“Torna-te bom” reduz-se antecipadamente à impotência.
• A felicidade é antes de tudo um modo de ver as
coisas e uma arte de adaptar-se a elas. Sendo Deus a Felicidade suprema, ver as coisas como são vistas por Deus, é
adaptar-se a elas à maneira de Deus.
• Contemos aos nossos filhos os apólogos das duas
rãs, da rosa ou da garrafa quebrada:
Duas rãs iam pelo campo quando caem num pote de leite. A
primeira desesperada, renuncia à luta e coaxando: “Socorro! Afogo-me!”, morre
asfixiada. A segunda luta com a energia do desespero, bate tanto com as
pernas... que transforma o leite em manteiga e consegue sobrenadar.
Diante de uma rosa, há duas atitudes possíveis: a do
pessimista que se desola de que as rosas tenham espinhos e a do otimista que se alegra
de que em espinhos possam nascer rosas.
Diante de uma garrafa quebrada há dois gritos possíveis:
"Que desgraça, esvaziou-se pela metade!” — "Que sorte, ainda resta a
metade!”
• Eis o que escreve uma excelente educadora:
"O único meio de praticar a educação cristã da alegria nas crianças é praticá-la antes em nós mesmos.
Sem dúvida, a alegria nos é dada com a vida e, sobretudo, com a graça. Toda alma em estado de graça, por ter caridade, é uma alma em estado de alegria. Mas a alegria, também, deve ser conquistada: saibamos, pois, conquistar nossa alegria e a das crianças, saibamos sorrir aos nossos filhos para lhes ensinar a sorrir. Não sei se já praticastes o jogo do sorriso; é um jogo divertido e educativo que consiste cm abrir um amplo sorriso à criança que fez uma grande tolice e com a qual nos zangamos. A vontade é de encará-la com olhos sérios e passar-lhe um sermão; em lugar disso, lhe sorrimos: o efeito é irresistível.
Pela manhã — escreve-me uma velha institutriz — sentando-me junto à mesa do escritório, esfrego as mãos de contente e digo às crianças: “Que felicidade! Vamos trabalhar muito!”
Todos os sistemas de pedagogia são miseráveis diante dessa
frase... Há escolas em que se dá com razão aos alunos o prêmio do bom-humor:
talvez houvesse mais alegria em nossas classes se todas as mestras
pudessem ter o primeiro prêmio de sorriso...
Acontece às vezes que um violino começa a soar quando
fazemos vibrar as cordas de outro instrumento na mesma sala;
igualmente, se soubermos fazer vibrar cada corda do Espírito Santo, nossos
filhos vibrarão em uníssono e cada um deles, cantando a seu modo a
Glória de Deus, fará que o dia seja um longo cântico de alegria.[3]
• Para criar ura clima favorável à educação nada
melhor do que a participação ativa dos pais na vida alegre dos
filhos. Por que não encorajar-lhes a iniciativa na escolha dos divertimentos
e das distrações, sobretudo na preparação das festinhas familiares, animá-los
quando dos êxitos obtidos, exames bem feitos, voltas de viagens?
• Nas refeições, papai e mamãe devem dar trégua
aos cuidados e animar alegremente a conversa. De um modo geral, as
crianças aprendem com os pais a arte de levar pelo lado mais divertido as
pequenas contrariedades da existência.
• As crianças têm necessidade de calma: a agitação e
o nervosismo agem sobre elas como o vento sobre as dunas. Onde há
furacão os arbustos não crescem.
• Há na vida muito aborrecimento e dificuldades,
nada porém é mais funesto para o equilíbrio harmonioso da criança do que
exibi-los a todo instante. Arriscamo-nos a criar ideias fixas que não
deixam de ser perigosas.
• Como as plantas, a criança precisa de sol.
• A educação triste corta as asas, a educação alegre duplica
o impulso de voar.
• O que é preciso a todo preço é impedir que no espírito das
crianças a família seja um lugar fastidioso, monótono e penoso, “lugar
onde nos aborrecemos”.
[1] ANDRÉ BERGE, op. cit.,
pág. 35.
[2] ALLAIN, citado por BERGE,
em Éducation Familiale, pág. 37.
[3]
FRANÇOIS DERRENNE, op. cit.