segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A educação do senso crítico



Senso critico

Que conhecimento adquirir

Em plena aprendizagem, os educandos precisam de adquirir conhecimentos, têm tanto que aprender! Mas é erro grave encher-lhes a cabeça de informações fúteis ou superficiais. Há um mínimo indispensável de conhecimentos: os necessários à direção da vida. Além disto, o espírito se enriquece com elementos de cultura geral que o põem em contato com os valores duradouros da humanidade, com elementos profissionais que lhe dão competência para o bom cumprimento dos deveres de estado, com conhecimentos da vida cotidiana do mundo, no que ela tem de valioso para os interesses pessoais e sociais.

Tudo o que desenvolve a inteligência, favorece a seriedade intelectual, serve ao cultivo das letras, ciências e artes, deve ser formentado na educação. Fora disto, é perda de tempo, desperdício de si, quando não resvala por piores caminhos.

"Uma cabeça bem feita"

É lastimável a orientação dos jornais modernos, cheios de informações tão banais, que, quando moralmente inofensivos, servem apenas para afastar o espírito dos temas aproveitáveis.

Ser "um homem bem informado" passou a constituir o elogio, quando o verdadeiro louvor merece o homem bem formado.

... Mais do que armazenar conhecimentos importa formar o senso crítico... O homem sabe, não apenas porque recebeu passivamente os conhecimentos e os pode repetir mecanicamente, mas quando incorporou os conhecimentos, quando os digeriu e assimilou. Para que isto seja judiciosamente feito, há de passar tudo pelo próprio julgamento, a fim de aceitar o que é bom e rejeitar o que é mau.

Ensinar a pensar

O grande trabalho do educador é este: ensinar a pensar, muito mais do que fornecer conhecimentos; formar a inteligência, muito mais do que informá-la. é despertar a capacidade de compreender. É dar uma certa autonomia mental, na medida em que ela é necessária. é preparar para o discernimento. É encaminhar o educando a usar de sua inteligência; a pensar por si; a saber valer-se da cabeça que Deus lhe deu. É fazer "trabalhar com a cabeça" - como expressivamente diz o povo, na sua linguagem viva e pitoresca.

Isto não se faz de uma vez, precipitada ou independentemente. Faz-se aos poucos. A criança precisa da autorizado dos pais e mestres. Mas deve libertar-se dela, intelectualmente em primeiro lugar. O acerto do educador está em ir processando insensivelmente esta libertação, sem choque, à medida do necessário e do razoável.

Com os adolescentes

A tendência hipercrítica da adolescência encontra natural corretivo nesta bem feita educação intelectual. O adolescente explode em independência, mais por causa da compressão que da justa liberdade. Paulatinamente libertado, proporcionadamente entregue a si mesmo, não sentirá tanto gosto na oposição aos "velhos", na demolição dos ídolos. Ademais, formados desde cedo no gosto da objetividade, não terão tanto apego aos próprios juízos. Apenas saberão, quanto lhes permite a idade, examinar os juízos alheios, para aceitá-los ou reformá-los "dominando-os", incorporando-os a si mesmos.

No terreno moral

Não temamos, com isto, formar racionalistas ou dar aos educandos perigosa independência. Esta capacidade de discernir e julgar é básica na vida moral: os que não a tiverem, considerem-se menores (qualquer que lhes seja a idade). Os que não a formarem, estão precipitando os educadores nas mãos de outrem - pois, incapazes de pensar por si, vão ser dirigidos por terceiros, que tanto os podem levar para o bem como, ainda mais facilmente, para o mal.

Longe de ser um erro (como ainda pensam alguns, amedrontados com a liberdade dos menores), não apenas é bem, mas essencial à virtude, como fundamento de toda a vida moral.

Em face da fé

É também perfeitamente compatível com a fé. Nada temos a temer do senso crítico bem formado. Pelo contrário, o fanatismo é o grande perigo. A credulidade tem sido a brecha dos assaltantes da fé católica de nossa gente. A fé é a aceitação do testemunho alheio: dos homens - fé humana; de Deus - fé sobrenatural.

Mas quando o católico aceita a Palavra de Deus e o ensino infalível da Igreja, não o faz cegamente. Não abdica de seu senso crítico, do direito de julgar. Pelo contrário, é firmado nos motivos de crer que ele faz o seu ato de fé.

Não cremos nos mistérios religiosos por julgá-los à luz de nossa razão; mas cremos porque aceitamos um testemunho que, de antemão, sabemos infalível. Assim compreendido, não há qualquer perigo da independência mental em face das verdades reveladas. Antes ela contribuirá para fazer convicções religiosas, tão importantes, decisivas, na formação cristã.

(O que fazer de seu filho - Pe. Álvaro Negromonte)
PS: Negritos meus; itálicos do autor.