sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Imoralidade pelo Papa Pio XII


Discurso, mulheres católicas, 20 de fevereiro de 1942

Não diversamente dos demais cristãos, também as pessoas dotadas simplesmente de honestidade e de bom-senso natural se admiram e aterram à vista da crescente maré de imoralidade que, embora estes últimos tempos já sejam extraordinariamente graves, ainda ameaça submergir a sociedade. Ninguém hesita em reconhecer como causa particular as publicações licenciosas e os espetáculos desonestos, que se apresentam aos olhos e aos ouvidos dos adolescentes e dos homens maduros, dos jovens e dos velhos, das mães e das crianças. Que dizer então da arte, da moda, dos costumes públicos e privados, masculinos e femininos? Difícil crer a que grau de corrupção moral não titubearam em descer determinados autores, editores, artistas, empreendedores e divulgadores de semelhantes obras literárias e dramáticas, artísticas e cênicas, convertendo o uso da pena e da arte, do progresso industrial e das admiráveis invenções modernas em meios, armas e lisonjas para a imoralidade. Escritos e obras, indignos da honra das letras e das artes, encontram leitores e espectadores aos milhares. E vós vedes adolescentes atirarem-se a tal alimento, para a mente e para os olhos, com toda a fúria das paixões que se acordam, vedes progenitores levarem e conduzirem consigo, a tão tristes cenas, meninos e meninas, em cujos tenros corações e em cujas pupilas se imprimem assim, em troca de inocentes e santas visões, fatais imagens e ânsias, que muitas vezes não mais se desvanecerão.

Que se deve portanto pensar que a natureza humana seja universal e profundamente depravada e que sua avidez de escândalos seja irremediável? Não, no coração humano Deus colocou por fundamento a bondade, à qual porém Satanás e a não refreada concupiscência armam ciladas. Salvo uma pequena minoria, o povo não procuraria espontaneamente, menos ainda pediria, divertimentos malsãos, se não fossem oferecidos, apresentados e, por vezes, quase impostos de surpresa. Por isto, se "contro miglior voler, voler mal pugna", é de extraordinária importância entrar na liça para a defesa da moral pública e social. Não é um combate de armas materiais e de sangue derramado mas um conflito de pensamentos e de sentimentos, entre o bem e o mal. Convém que todos aqueles que são bons (e já são muitos), enderecem seus esforços e coloquem todo seu talento para criar, promover uma literatura, um teatro, um cinema, que sejam educativos, sãos de conceitos e de costumes, e ao mesmo tempo interessantes e atraentes, verdadeiras obras artísticas. Não podemos suficientemente louvar e animar os beneméritos intelectos que a esta empresa se dedicam; são quais apóstolos do bem. É porém evidente que tal carga de apostolado não é para todos os ombros.

Não haveria para os outros algo que lhes conviesse? Podem eles acalentarem a esperança de que a atração das boas e belas obras será universalmente capaz de fazer nascer e difundir invencível desgosto e repúdio por todas as torpezas? Sobre isto ninguém é tão ingênuo que se iluda. E, então, encontram-se porventura desarmadas as pessoas de bem, diante dos mais desfrutadores da imprensa, da tela e do humorismo? Isto seria injusto afirmar, e tal injustiça manifestar-se-ia logo a quem quer que conhece e considera atentamente a louvável legislação que honra o País. Aos cidadãos respeitáveis, aos pais de família, aos educadores, está aberto o caminho para assegurar a aplicação e eficaz sanção daquelas leis providenciais, levando à autoridade civil, de modo devido, as denúncias baseadas sobre o fato, exata nas referências e quanto às pessoas, coisas e palavras, a fim de que tudo o que de reprovável fosse apresentado ao público seja reprimido ou impedido.

O trabalho, não o dissimulamos, é imenso e variado; porque imenso, oferece vasto campo para todos os de boa vontade; porque variado, é passível de todas as atitudes. Sua amplidão, porém, se de uma parte possui algo que causa medo e desencoraja os pusilânimes, de outra parte, no entretanto, serve para inflamar sempre mais o ardor das almas generosas.

Discurso, mulheres da Ação Católica, 24 de julho de 1949

Examinemos agora mais de perto nosso argumento, porque muito ainda permanece por ser feito, e a Igreja, de sua parte, muito espera de nós.

Sempre mais altas e penetrantes ressoam, do solo europeu e de além-mares, os gritos, as vozes de socorro pela infeliz condição das famílias e das gerações de jovens. Que a guerra seja a principal culpada, parece não padecer dúvidas. É responsável sobretudo pela violenta e funesta separação de milhões de cônjuges e de famílias, e pela destruição de inumeráveis habitações.

Mas é igualmente certo que a verdadeira e própria razão de tão grande mal é ainda mais profunda. Deve ser procurada naquilo que com um termo geral se chama materialismo, na negação ou ao menos no descaso e no desprezo de tudo o que é religião, cristianismo, submissão a Deus e a sua lei, vida futura e eternidade. Como um hálito pestífero, o materialismo invade sempre mais todo o ser e produz maléficos frutos no matrimônio, na família e nos jovens.

É, pode-se afirmar, unânime o juízo de que a moralidade dos jovens está em contínua decadência. E não somente isto acontece com a juventude da cidade. Também na do campo, onde outrora floriam sãos e robustos costumes, a degradação moral não se torna inferior, porque muito daquilo que na cidade leva ao luxo e ao prazer, obteve igualmente entrada franca nas vilas.

É supérfluo recordar quanto o rádio e o cinema foram usados e abusados para a difusão daquele materialismo, e do mesmo modo: o mau livro, a licenciosa revista ilustrada, o espetáculo impudico, o baile imoral, a imodéstia das praias contribuíram para aumentar a superficialidade, o mundanismo, a sensualidade da juventude.

Os relatórios que provêm de diversas regiões, assinalam tais fatores como causa do abandono moral e religioso dos jovens. É porém responsável, em primeiro lugar, a desagregação do matrimônio, cuja funesta conseqüência e cujo índice é o abaixamento moral da juventude.

Discurso aos Cineastas, E.U.A., 14 de julho de 1945

Pergunta-se, por vezes, se os dirigentes das indústrias cinematográficas avaliam exatamente o vasto poder que possuem de influenciar na vida social, quer no recesso da família, quer em mais amplos grupos civis.

Os olhos e os ouvidos são como amplas vias, que levam diretamente à alma do homem e estão abertas, o mais das vezes sem obstáculos, pelos espectadores dos vossos filmes. Que é que passa da tela para os recônditos da mente onde se desenvolve o fundo dos conhecimentos e se plasmam e afinam as normas e os motivos da conduta, que formarão o caráter definitivo dos jovens?

É algo que contribuirá para nos dar um cidadão melhor, trabalhador, observante da lei, temente a Deus o que o faz encontrar suas alegrias e recreio nas telas e nos divertimentos?

São Paulo citou Menandro, antigo poeta grego, quando escreveu aos fiéis de sua Igreja em Corinto que "a péssima conversa corrompe os bons costumes". Isso, que então foi verdade, não deixa de hoje também ser verdade, porque a natureza humana muda pouco com os séculos. E se é verdade, como o é realmente, que a má conversa corrompe a moral, quanto mais eficazmente não será esta corrompida pela má conversa acompanhada pela conduta, vivamente projetada, que contradiz as leis de Deus e da decência civil? Oh, imenso é o bem que o cinema pode fazer! Eis porque os espíritos maléficos, sempre ativos neste mundo, desejam perverter este instrumento para seus ímpios escopos; é encorajante saber que o vosso Comitê está consciente do perigo e torna-se sempre mais consciente de suas graves responsabilidades diante da sociedade e de Deus.

Cabe à opinião pública sustentar de todo o coração e efetivar todo esforço legítimo executado por homens de integridade e honra para purificar os filmes e mantê-los limpos, para melhorá-los e aumentar-lhes as utilidades.

Discurso, Juventude da Ação Católica, 6 de outubro de 1940

Moda e modéstia deveriam caminhar juntas como duas irmãs, porque ambos os vocábulos têm a mesma etimologia; do latim "modus", quer dizer, a reta medida, além e aquém da qual não se pode encontrar o justo. Mas a modéstia não é mais moda! Semelhantes àqueles pobres alienados que, tendo perdido o instinto da conservação e a noção do perigo, se atiram no fogo ou nos rios, não poucas almas femininas, esquecidas por ambiciosa vaidade, da modéstia cristã, vão miseravelmente ao encontro de perigos onde sua pureza pode encontrar a morte. Sofrem a tirania da moda, até a da moda imodesta, de sorte que parecem não suspeitar mais, nem mesmo da inconveniência; perderam o próprio conceito do perigo, o instinto da modéstia.

Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos.